Falta de mestre de obra no grupo vencedor eleva temor por Belo Monte
23/04/2010Fonte: O Globo, Economia, p. 28
Falta de 'mestre de obra' no grupo vencedor eleva temor por Belo Monte
Maior usina da Queiroz Galvão tem 390 MW, contra 11 mil MW do projeto
Mônica Tavares e Eliane Oliveira
A viabilidade econômico financeira do negócio não é o único obstáculo a ser vencido pelo consórcio Norte Energia, que ganhou a disputa para construir e operar a hidrelétrica de Belo Monte. O mercado já manifesta uma preocupação quanto à ausência de um "mestre de obras" entre os sócios do empreendimento.
E o governo está ciente disso. Isso porque a Queiroz Galvão - principal empreiteira do grupo - é considerada uma empresa média no ramo.
Sua maior usina, ainda em construção, é de 390 megawatts (MW), enquanto Belo Monte tem mais de 11 mil MW.
Já a J.Malucelli - outra construtora estratégica do grupo - é pequena sob esta ótica. Seu principal ramo é a infraestrutura urbana e industrial. As incursões no setor elétrico se resumem a três pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), de 2009, e a duas usinas em andamento. As duas outras construtoras do Norte Energia - Mendes Junior e ServengCivilsan - também não têm o perfil necessário.
Além disso, a adesão da Camargo Corrêa e da Odebrecht a Belo Monte - como sócias ou contratadas - é hoje bastante incerta, e a Andrade Gutierrez estava no grupo perdedor (pode no máximo ser contratada, mas ainda não manifestou este interesse).
As três são as maiores empreiteiras do país, tocam obras de porte semelhante e fizeram os estudos da usina.
Situação geológica aumenta chance de erros
Esta realidade contrasta com o discurso da União, pelo qual a hidrelétrica sairá com ou sem empreiteira de porte, pois as três grandes estão muito mal acostumadas.
Para observadores, tratase de jogo de cena para o governo não passar a ideia de dependência e de que o consórcio vencedor está "furado" e precisa de ajustes.
- O governo saiu das mãos das empreiteiras como investidores e ficou na mão delas como construtoras da mesma forma.
Estamos vivendo um momento delicado - avaliou uma fonte.
O gerenciamento de Belo Monte requer experiência, porque a obra é muito complexa. Tem riscos geológicos elevados, uma engenharia intrincada, uma chance elevada de erros - que requerem expertise para detecção e correção - e um desafio monumental à manutenção do ritmo da obra, de forma a garantir a entrada em operação em 2015.
Até porque antecipar a oferta de energia - ainda que por meses em 2015 - é vital para o caixa da concessionária de Belo Monte, pois só antes do prazo ela poderá vender toda a produção para o mercado livre. Problemas no gerenciamento podem elevar o custo da obra em até 20%, avaliam analistas.
As duas empresas do grupo Eletrobras que integrarão a Sociedade de Propósito Específico (SPE) que será concessionária de Belo Monte - Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) e Eletronorte - poderão operar a hidrelétrica sem dificuldade, pois, como geradoras, têm muita experiência. Mas elas não tocam grandes obras há muito tempo.
Ainda mais na Amazônia.
- Nenhuma das empreiteiras que venceram Belo Monte tem experiência em gestão de grandes obras, e a Chesf e a Eletronorte há muito tempo não gerenciam uma obra tão complexa - resumiu uma fonte.
- A obra é complicada em termos de construção civil, por causa da barragem. Principalmente no tempo em que se deseja construir - completa.
Normalmente, são usados dois tipos de contratos para a construção de grandes hidrelétricas.
O primeiro, segundo um especialista, é contratar o gerenciamento para a construção da usina em conjunto com a empreiteira que vai fazer a obra, tudo em um pacote fechado, com preço fixo. Porém, como a obra é muito grande e há riscos geológicos, ele não acredita que isto será possível em Belo Monte.
A outra forma é contratar uma empresa que ficaria responsável pelo gerenciamento da obra, como em Jirau, no Rio Madeira.
Caberia a ela escolher quais empreiteiras fariam a construção.
Porém, isto poderia elevar ainda mais o custo de Belo Monte. As maiores empresas de gerenciamento no país no ramo de energia são a Leme Engenharia, ligada à Suez (que é cotada para entrar na concessionária de Belo Monte), a Promon Engenharia Ltda, a CNEC Engenharia e a Engevix.
O governo procura demonstrar tranquilidade. Negando ser refém, tem dito que a obra permite a participação de empreiteiras de pequeno, médio e grande portes e acredita que Chesf e Eletronorte estão preparadas para gerenciar Belo Monte.
E o governo está ciente disso. Isso porque a Queiroz Galvão - principal empreiteira do grupo - é considerada uma empresa média no ramo.
Sua maior usina, ainda em construção, é de 390 megawatts (MW), enquanto Belo Monte tem mais de 11 mil MW.
Já a J.Malucelli - outra construtora estratégica do grupo - é pequena sob esta ótica. Seu principal ramo é a infraestrutura urbana e industrial. As incursões no setor elétrico se resumem a três pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), de 2009, e a duas usinas em andamento. As duas outras construtoras do Norte Energia - Mendes Junior e ServengCivilsan - também não têm o perfil necessário.
Além disso, a adesão da Camargo Corrêa e da Odebrecht a Belo Monte - como sócias ou contratadas - é hoje bastante incerta, e a Andrade Gutierrez estava no grupo perdedor (pode no máximo ser contratada, mas ainda não manifestou este interesse).
As três são as maiores empreiteiras do país, tocam obras de porte semelhante e fizeram os estudos da usina.
Situação geológica aumenta chance de erros
Esta realidade contrasta com o discurso da União, pelo qual a hidrelétrica sairá com ou sem empreiteira de porte, pois as três grandes estão muito mal acostumadas.
Para observadores, tratase de jogo de cena para o governo não passar a ideia de dependência e de que o consórcio vencedor está "furado" e precisa de ajustes.
- O governo saiu das mãos das empreiteiras como investidores e ficou na mão delas como construtoras da mesma forma.
Estamos vivendo um momento delicado - avaliou uma fonte.
O gerenciamento de Belo Monte requer experiência, porque a obra é muito complexa. Tem riscos geológicos elevados, uma engenharia intrincada, uma chance elevada de erros - que requerem expertise para detecção e correção - e um desafio monumental à manutenção do ritmo da obra, de forma a garantir a entrada em operação em 2015.
Até porque antecipar a oferta de energia - ainda que por meses em 2015 - é vital para o caixa da concessionária de Belo Monte, pois só antes do prazo ela poderá vender toda a produção para o mercado livre. Problemas no gerenciamento podem elevar o custo da obra em até 20%, avaliam analistas.
As duas empresas do grupo Eletrobras que integrarão a Sociedade de Propósito Específico (SPE) que será concessionária de Belo Monte - Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) e Eletronorte - poderão operar a hidrelétrica sem dificuldade, pois, como geradoras, têm muita experiência. Mas elas não tocam grandes obras há muito tempo.
Ainda mais na Amazônia.
- Nenhuma das empreiteiras que venceram Belo Monte tem experiência em gestão de grandes obras, e a Chesf e a Eletronorte há muito tempo não gerenciam uma obra tão complexa - resumiu uma fonte.
- A obra é complicada em termos de construção civil, por causa da barragem. Principalmente no tempo em que se deseja construir - completa.
Normalmente, são usados dois tipos de contratos para a construção de grandes hidrelétricas.
O primeiro, segundo um especialista, é contratar o gerenciamento para a construção da usina em conjunto com a empreiteira que vai fazer a obra, tudo em um pacote fechado, com preço fixo. Porém, como a obra é muito grande e há riscos geológicos, ele não acredita que isto será possível em Belo Monte.
A outra forma é contratar uma empresa que ficaria responsável pelo gerenciamento da obra, como em Jirau, no Rio Madeira.
Caberia a ela escolher quais empreiteiras fariam a construção.
Porém, isto poderia elevar ainda mais o custo de Belo Monte. As maiores empresas de gerenciamento no país no ramo de energia são a Leme Engenharia, ligada à Suez (que é cotada para entrar na concessionária de Belo Monte), a Promon Engenharia Ltda, a CNEC Engenharia e a Engevix.
O governo procura demonstrar tranquilidade. Negando ser refém, tem dito que a obra permite a participação de empreiteiras de pequeno, médio e grande portes e acredita que Chesf e Eletronorte estão preparadas para gerenciar Belo Monte.
O Globo, 23/04/2010, Economia, p. 28
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