Garçom, tem mercúrio no meu peixe?
sexta-feira, julho 3, 2009 por Mundo Verde
Você já parou para pensar na quantidade de elementos tóxicos que pode estar ingerindo junto com os alimentos, sem saber? Então confira mais um texto super informativo e interessante de autoria de Isabela Antunes Joffe, correspondente do site e do informativo Mundo Verde em Nova Iorque.
Isabela escreve sobre as altíssimas concentrações de mercúrio e outros metais pesados nos peixes da fauna brasileira, e dos cuidados que podem ser tomados para que esses perigos sejam afastados da mesa e do planeta:
De populações ribeirinhas do Amazonas aos restaurantes estrelados do mundo, as possibilidades de consumir peixes e frutos do mar em extinção e/ou contaminados por metais pesados, tais como o mercúrio (Hg), cobre, cádmio e zinco, são enormes.
Eis algumas razões:
- Pesca predatória;
- Exploração ilegal associada ao uso de artefatos de captura agressivos às espécies;
- Falta de informações voltadas para o consumo consciente;
- Garimpo de ouro;
- Pesticidas usados na agricultura;
- Efluentes industriais e domésticos;
- Emissões atmosféricas oriundas da queima de combustíveis fósseis.
Perigo à mesa e ao Planeta:
A contaminação na região Amazônica, por exemplo, por mercúrio, foi iniciada com a corrida do ouro, na década de 1980, cujo ápice foi o garimpo de Serra Pelada, no Pará.
Com o fim da corrida do ouro, nos anos de 1990, os níveis de contaminação se agravaram, não somente pela atividade extrativista, mas pelo próprio solo da floresta, através do desmatamento para a pecuária e a plantação de soja. Desta forma, o mercúrio e o solo desprotegido representam poluição, via lixiviação (processo de lavagem de solos pelas águas das chuvas carregando os sedimentos para os rios e outras áreas).
Pesquisas têm revelado que uma grande parte das espécies de peixes carnívoros da Amazônia, como o tucunaré e o pintado, estão contaminados.
A exposição a concentrações de mercúrio pode trazer graves consequências:
No ser humano: Déficit de aprendizado, perda de sensibilidade nas extremidades, constrição do campo visual, danos no sistema nervoso central, má-formação no sistema nervoso de fetos, entre outros.
No ambiente: Danos ao crescimento dos peixes, sobrevivência e reprodução de comunidades de organismos, comprometendo a biodiversidade e a sua manutenção.
Assim, o consumidor responsável de peixes e frutos do mar deve ficar atento às seguintes considerações:
- De preferência, consuma peixe da sua região. Vivendo perto de rio limpo, consuma peixes de água doce.
- Vivendo perto do mar limpo, valorize os peixes de água salgada e os frutos do mar, comuns no seu litoral.
- Valorize somente os peixes que são pescados de modo artesanal, por comunidades não envolvidas com pesca em escala industrial.
- Exija informações do órgão do governo municipal ou estadual da sua área e/ou do responsável por uma peixaria.
Faça perguntas, tais como:
- Como e quando o peixe foi pescado?
- Onde ele vive?
- O mar nessa região está contaminado?
- O peixe é importado?
- Está extinto ou não?
Para saber mais sobre o assunto, confira alguns links que foram utilizados por Isabela na pesquisa para este artigo:
- FAPERJ
- Blog “Uma Malla pelo Mundo” – A situação dos tubarões no mundo
- Aquicultura sustentável
- Blog “Faça a sua parte” – Dia Mundial dos Oceanos
- IBAMA
- Ministério do Meio Ambiente
- Associação Brasileira de Criadores de Camarão
- Revista Pesca
Confiram a segunda parte do artigo de Isabela Antunes Joffe sobre o consumo responsável de animais marinhos e os cuidados que devemos ter para evitar a ingestão de produtos contaminados.
Mandamentos do consumidor responsável:
1. Não compre ou coma cação ou tubarão, peixes que acumulam grandes quantidades de mercúrio em suas carnes e alguns dos mais ameaçados de extinção no mundo. Ao comê-los, você estará incentivando o horrendo comércio de barbatanas na China, que é legal e ainda é sinônimo de lucro! Na Ásia, o tubarão é considerado predador e também alimento da melhor qualidade.
Tipos de cação: Cação-anjo, Squatina guggenheim, Cação-anjo, Squatina occulta, Cação-bico-doce, Mustelus schimitti, Cação bico-de-cristal, Galeorhinus galeus.
2. Não compre ou coma raia-viola, Rhinobatus horkelli, peixe cartilaginoso, que também está ameaçado. Presente da costa do Rio de Janeiro até o Mar Del Plata, no Uruguai, ela é capturada pela pesca de arrasto de camarão e de parelha industrial e artesanal. Como agravante, as fêmeas grávidas são pescadas em águas com mais de 20m de profundidade, no local onde se concentram durante o verão para dar à luz seus filhotes, pois ali encontram formações que são uma espécie de berçário.
OBS.: É proibida a comercialização dessas cinco espécies em todo o território nacional (Instrução Normativa-IN do Ministério do Meio Ambiente-MMA, N. 5/2004).
3. Evite pratos à base de bacalhau, visto que já é considerado extinto em diversas áreas, além de ser importado e proveniente de locais distantes.
4. Só compre lagostas entre os meses de maio e dezembro (a época de reprodução desses animais é de janeiro a abril).
Atenção: A rede caçoeira utilizada para a pesca de lagostas está proibida. Este instrumento de trabalho possui 4m de altura e até 5km de comprimento, ficando posicionada no fundo do oceano. Como possui uma fina trama de nylon, retém, ao final de 12 horas, tartarugas, corais, a biomassa, além de peixes e lagostas de pequeno porte, trazendo-os à superfície.
5. Evite o consumo de camarões. A grande maioria da sua pesca ainda é feita com arrasto, atividade destruidora. Consuma-os apenas no período não reprodutivo. Há diferentes espécies de camarão no oceano. Cada uma possui um período reprodutivo específico nas diferentes áreas do Brasil, cuja pesca é proibida pelo IBAMA em tal período. O período reprodutivo do camarão-rosa no extremo nordeste é de março a maio. Na Bahia e Espírito Santo, o período é de setembro a novembro. No sudeste o camarão-sete-barbas se reproduz entre novembro e meados de dezembro.
6. Considerado extinto em muitas regiões do planeta, evite o salmão, peixe de águas gélidas, até mesmo o cultivado. O prejuízo que uma fazenda de salmão causa ao ambiente é incalculável. A maioria do salmão selvagem consumido no Brasil é importada do Chile, exigindo transporte refrigerado em longas distâncias, o que causa o aumento da emissão de CO2, através da queima de combustível fóssil, etc.
7. Verifique a espécie de atum ao comprá-lo. Algumas espécies não estão ameaçadas de extinção.
8. Preste atenção especial aos congelados de animais sazonais. Exija do fabricante a data e como foi pescado. Leia o rótulo dos produtos. Dê preferência ao produto fresco, congelando-o em casa.
9. No seu cardápio, dê preferência às tilápias, consideradas mais sustentáveis e fáceis de serem criadas para consumo. Importante ficar atento à qualidade dos produtos de aquicultura e, principalmente à dos moluscos. Muitos produtores não têm a licença de comercialização do Ministério da Agricultura que exige um selo especial (SIF).
10. Valorizar somente Fazenda de Peixe ou Aquiculturas sustentáveis.
Texto de Isabela Antunes Joffe
Correspondente do site e do informativo Mundo Verde em Nova Iorque.
INSTITUTO SOS RIOS DO BRASIL
ÁGUA - QUEM USA, CUIDA!
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