O terremoto devastador no Haiti em janeiro passado causou a morte de mais de 200.000 pessoas, tornando-se um dos maiores desastres naturais deste ano.
Mas, em contrapartida, cerca de 3,6 milhões de pessoas - incluindo 1,5 milhões de crianças - morrem anualmente de doenças relacionadas à água, incluindo diarreia, febre tifóide, cólera e disenteria.
Como as Nações Unidas comemora o Dia Mundial da Água, na próxima semana, o Secretário-Geral Ban Ki-moon diz que a água limpa se tornou escassa e vai se tornar ainda mais escassa com a mudança climática.
"Mais pessoas morrem por consequencia de água contaminada do que todas as formas de violência, incluindo a guerra", disse ele em um comunicado divulgado quinta-feira.
O tema deste ano do Dia Mundial da Água 22 de março - "água limpa para um mundo saudável" - salienta que tanto a qualidade com a quantidade dos recursos hídricos estão em grave risco.
Um estudo divulgado segunda-feira pelo Comité de Acompanhamento do Programa Comum (JMP), da Organização Mundial de Saúde (OMS) e da agencia das crianças das Nações Unidas ,UNICEF, apresentou as tendências atuais de água e saneamento em 209 países e territórios no mundo.
Com 87 por cento da população do mundo - cerca de 5,9 bilhões de pessoas - utilizando fonte de agua potável, o mundo está a caminho de alcançar ou mesmo exceder a meta da água potável dos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM).
Mas a má notícia, segundo o relatório, intitulado "Relatório de Atualização sobre O progresso em Saneamento e Água Potável 2010", é que as metas da ONU para saneamento são ainda muito atrasados.
Com quase 39 por cento da população mundial (mais de 2,5 bilhão de pessoas) vivem sem instalações sanitárias melhoradas, o relatório disse que muito mais precisa ser feito para alcançar ou se aproximar da meta do saneamento dos ODM.
"Se a actual tendência se mantiver inalterada, a comunidade internacional vai perder o ODM de saneamento em 2015 por quase um bilhão de pessoas", alertou.
Serena O'Sullivan da sede em Londres End Water Poverty, no entanto, esta cética.
"A JMP sugere que estamos no caminho de atingir ou mesmo exceder os Objetivos do Milênio para a água potável, mas a situação é simplesmente muito mais complicada, e não podemos nos dar ao luxo de nos felicitar", disse à IPS.
Em primeiro lugar, grande parte deste progresso se deve a uma melhoria rápida na Ásia Oriental, particularmente na China, "sem os quais nós ainda estaríamos fora de curso".
Em segundo lugar, ela disse, os números globais mascaram enormes disparidades dentro dos países e entre eles.
E, terceiro, "apesar de estarmos na pista a nível mundial, cerca de 900 milhões de pessoas ainda estão sem acesso a água potável segura."
Berntell do SIWI disse à IPS que o trabalho conjunto da OMS e da UNICEF para continuar a monitorar a cobertura do abastecimento de água e saneamento é extremamente importante.
"Os resultados até agora, entretanto, não são tão encorajadores (porque) mesmo que sejam feitos progressos, a taxa é extremamente lenta", acrescentou.
No que diz respeito ao saneamento, Berntell disse: "É um escândalo global que vemos, com um aumento do número total de pessoas sem saneamento básico."
"Este ano, quando nos concentramos nos desafios da qualidade da água em muitas das nossas discussões, as ligações óbvias entre a falta de instalações sanitárias adequadas, e as práticas resultantes de defecação a céu aberto, levando à deterioração da qualidade da água, devem ser realçadas ainda mais ", acrescentou.
Ele apelou aos líderes da sociedade, do povoado a nível local até oo nível internacional, para retomar a sua responsabilidade, e liderar o caminho para mais investimentos e mudança de comportamento.
Dra. Maria Neira, da OMS diretora do Departamento de Saúde Pública e Meio Ambiente, afirmou: "Todos nós reconhecemos a importância vital da água e saneamento para a saúde humana e o bem-estar e do seu papel como motor do desenvolvimento".
A questão agora está em como para acelerar o progresso no sentido de alcançar as metas dos ODM e ainda mais importante, como dar um salto a frente para finalmente alcançar a visão de acesso universal, ela observou.
O'Sullivan disse que a crise de água e de saneamento prejudica os progressos realizados em outras áreas de desenvolvimento, pois afeta cerca de 2,5 bilhões de pessoas, e está matando mais crianças do que a malária, HIV / SIDA e tuberculose juntas.
Estes dois direitos humanos básicos - acesso à água e saneamento - estão sendo recusados a pessoas em todo o mundo, levando a conseqüências terríveis.
Atualmente, cerca de 4.000 crianças menores de cinco anos morrem todos os dias de doenças passíveis de prevenção causadas por doenças relacionadas a água, como diarréia, febre tifóide, cólera e disenteria.
Mais da metade dos leitos hospitalares nos países em desenvolvimento são tomados por aqueles que sofrem com doenças diarréicas, sobrecarregando os frágeis sistemas de saúde, ela acrescentou.
A ONU estima que metade das meninas que deixam de freqüentar a escola primária na África o fazem por causa da falta de banheiros e segurança privada.
"Esta crise de água e saneamento está retendo melhorias em todos os outros ODM, inclusive educação e saúde materna e infantil, e afecta não só o desenvolvimento humano, mas também, fundamentalmente, o crescimento económico", disse O'Sullivan.
Para impedir que outros esforços de desenvolvimento sejam postos em causa: "Precisamos de líderes mundiais que tomem medidas firmes para inverter a crise global de água e saneamento, antes que seja tarde demais".
Em 23 de abril, ela disse, ministros do governo terão a chance de fazer exatamente isso, uma vez que essa é a primeira reunião de alto escalão sobre água e saneamento que tem lugar em Washington.
"Eles simplesmente devem se comprometer a obtenção de progressos reais no sentido de alcançar saneamento e a água para todos", disse ela.
INSTITUTO SOS RIOS DO BRASIL
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