Ambientalistas acreditam que isso deve prejudicar o desenvolvimento no Vale
O decreto 52.748 do governo do Estado de São Paulo determina que seja feito um estudo para identificar novos mananciais que abastecerão a macrometrópole nos próximos 30 anos. A bacia do Rio Paraíba do Sul é uma das opções estudadas. A macrometrópole inclui, além da região metropolitana de São Paulo, a Baixada Santista e Campinas. A conclusão do estudo deve ser apresentada até o fim do ano.
O Rio Paraíba do Sul abastece 14 milhões de pessoas, divididas entre 180 cidades de três estados: São Paulo, Minas Gerais e a região metropolitana do Rio de Janeiro. Ele nasce em Areias ainda com o nome de Paraitinga e quando se junta ao Rio Paraibuna, na represa da cidade que leva o mesmo nome, torna-se um dos principais rios do Brasil.
Segundo Marli Aparecida Maciel Leite, diretora do DAAE e secretária executiva do Comitê de Bacias, “esse estudo vai avaliar as bacias num raio de 200 quilômetros e as possibilidades de abastecimento da macro-metrópole”. Ela explica que em função da distância com a capital, a bacia do Paraíba está sendo estudada e avaliada junto com outras regiões do estado de São Paulo. São elas: Alto Tietê, o conjunto Piracicaba, Capivari e Jundiaí, Baixada Santista, Sorocaba e Médio Tietê.
Os ambientalistas da região estão preocupados. Marcus Fernandes da Costa, da Ong Ecosolidario, revela que o uso racional da água e a questão do desenvolvimento regional do Vale do Paraíba são questões relevantes. O motivo, segundo ele, é que o consumo e a transposição dessa água para a metrópole podem retardar o crescimento dos municípios tanto no aspecto econômico quanto no desenvolvimento rural.
Outro agravante é a quantidade de indústrias e áreas agrícolas que sobrevivem dessa água em todo o Vale. “Nós estamos abastecendo duas macrorregiões de população intensa e de repente eu não sei se água sobra pra gente”, diz Luiz Eduardo Correa Lima, do Instituto de Proteção Ambiental (IPEA) de São José dos Campos.
Essa preocupação também é compartilhada pelo diretor de Operações da empresa de água e esgoto (SAAE) de Jacareí, Stelio Machado Loureiro Filho.
De sua sala, observa a marcação de uma régua fincada na beira do rio e explica que o nível do rio não obedece mais os níveis que tinha há vinte anos. “O nível do rio seguia em torno de 70 centímetros na parte mais baixa. Hoje chegamos a ficar com 5, 4 centímetros”, diz. “Então houve uma perda muito grande no nível do rio”, completa.
No registro do SAAE de dez anos atrás, a régua marcava 68 centímetros. No início deste mês marcou 17 centímetros. Há épocas em que ela quase seca, o que já aconteceu pelo menos três vezes desde dois mil e três. Vem daí a falta d'água. Foi o que ocorreu em março deste ano.
Em Jacareí, a prefeitura começa a buscar apoio. Para Hamilton Mota, prefeito da cidade, não há dúvida que não é uma preocupação restrita ao município. Ele pretende levar a discussão para o Codivap e conseguir que governo venha conversar oficialmente com os prefeitos da região que depende quase que na sua totalidade do rio Paraíba do sul.
TRANSPOSIÇÃO DO RIO PARAÍBA DO SUL
ResponderExcluirA transposição de algo que está vivo é muito complicada. Daquilo que está morto, então, não se recomenda. O Rio Paraíba do Sul, vem se transformando em vedete, ainda que seja objeto de escárnio e desrespeito das nossas autoridades. Um grande corredor de esgoto a céu aberto, ainda que consiga fornecer água para milhões de pessoas, será estuprado no seu direito de seguir o próprio curso. Mexer no rio, na tentativa de solucionar o problema da falta d´água para outras regiões, pode parecer o mais prático, no entanto representará a morte imediata do mesmo. Falamos em preservação e desempenhamos nosso papel de cidadão há décadas. Nossas denúncias, nossas idéias, nossos sonhos, nossos ideais, misturaram-se em suas águas e foram soterrados pelos portos de areia. Seria inteligente por parte dos que pensam na transposição de suas águas, se o fizessem com o esgoto que corre livremente na sua direção, dos portos de areia que a cada dia mergulham o rio na sua agonia definitiva, das indústrias em suas margens, de residências, favelas, um mundo de desrespeito e abuso com sua vida. O que mais me preocupa é saber que, além do Rio Paraíba do Sul, centenas de outros estão na mesma situação. Estão mortos ou morrendo. A transposição é um meio de fautorizar algum segmento interessado. Não é em função das necessidades do próprio rio. Não é para sua preservação. É um projeto para arrancar suas entranhas e depositá-las as suas margens como as vísceras de animais silvestres, abatidos pelos malditos caçadores. “Quando o homem tiver cortado a última árvore, poluído a última gota de água, matado o último animal e pescado o último peixe, só então perceberá que o dinheiro não é comestível”. Não faço parte de grupos defensores do rio. Não sou oposição nem situação. Não estou atrelado aos conluios políticos que se escondem no projeto. Sou cidadão, represento uma geração que bebeu das suas águas, se alimentou dos seus peixes e sentiu-se impotente diante do descaso das nossas autoridades. Há órgãos fiscalizadores. Sem recursos. Inoperantes. Desinteressados. O dinheiro fala mais alto. Quem estupra o rio diante dos olhares beneplácitos do poder, alicia a alma, vangloria-se, impune, na continuidade nociva dessa destruição que avança pelas nossas cidades, estado e país. Que alguém ouse contestar e me mostrar que essa não é a nossa realidade. O dinheiro compra a cama, mas não compra o sono. Nem me cala. Não nasci para ser covarde e nem corrupto.
CARLOS ROBERTO VENTURA
Ambientalista/Ecologista/Delegado Cultural
Carlos Roberto Ventura
ResponderExcluirCaçapava/SP