Seguidores do Blog SOS Rios do Brasil

4 de novembro de 2009

NO MÉDIO RIO IÇANA (AM), ESCOLA PAMÁALI GERA ENERGIA COM ÓLEOS VEGETAIS E VAI INSTALAR MICROTURBINAS NOS IGARAPÉS


Uma pequena central hidreletrica (PCH).

Escola indígena vai utilizar óleos vegetais em gerador e água de igarapés

ISA - 03/11/2009

Centro de pesquisa e extensão dos povos Baniwa e Coripaco, a Escola Pamáali, no Médio Rio Içana, noroeste amazônico, inova utilizando óleos vegetais para geração de energia elétrica e planeja instalar microturbinas em igarapé para complementar o uso de painéis solares e ampliar o percentual de energia limpa em uso

Pioneira no uso da energia solar no Rio Içana, utilizando esta tecnologia desde 2004, a Escola indígena Pamáali tem se constituído num dos pólos de inovação na Bacia do Rio Negro junto à outras iniciativas de autogestão em educação indígena, como as escolas Utapinopona (Tuyuka) e Yupuri (Tukano).

Há cinco anos a Pamáali conta com uma antena de internet do programa Gesac, do Ministério das Comunicações (MC), e vem desenvolvendo atividades de inclusão digital, com a realização de oficinas de informática, além do uso cotidiano para comunicação e consultas à bibliotecas virtuais e outras fontes de informação nas pesquisas que realiza. Vale lembrar que o convênio celebrado entre o ISA e o Gesac para instalação de antenas também promoveu a inclusão digital de outras escolas do Médio Rio Içana, da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn) e da sede do ISA, em São Gabriel da Cachoeira.

Ocorre, porém, que o aumento do uso de computadores - são seis notebooks da escola, e alguns de uso próprio de alunos e professores - cresceu também a demanda por energia elétrica, e as placas solares instaladas deixaram de ser suficientes.

Antena e placa solar na escola



Além disso, como núcleo inovador, a escola passou a adotar o uso da tecnologia no processo de ensino e aprendizagem e a energia passou a apoiar a formulação de conhecimento, não só com acesso à internet, mas com o uso de projetor e materiais de apoio ao ensino como vídeos e música. E as seis placas solares instaladas não conseguiam garantir a dinâmica de ensino-aprendizagem. Começou então a buscar alternativas e testar novas tecnologias, avaliando a compatibilidade de sua aplicação no Rio Içana, que contempla em sua proposta político-pedagógica a responsabilidade de desenvolver e apoiar estratégias e atividades de desenvolvimento sustentável na região.

Depois de avaliar as tecnologias disponíveis, e a partir da experiência acumuloada com a energia solar, a escola concluiu que, como a região do Alto Rio Negro é a de maior índice pluviométrico no Brasil e no período de chuvas as placas não são capazes de recarregar o banco de baterias devido ao baixo grau de insolação disponível, a opção de apenas aumentar a quantidade de placas instaladas não seria a mais adequada.

Óleo vegetal como alternativa ao diesel

Como primeira ação resultante da pesquisa, a Associação Comunidade da Escola Pamáali (Acep), responsável pela gestão da escola, resolveu investir na compra de um gerador a diesel. Mas como não queria ficar dependente da compra de combustível, estabeleceu uma parceria técnica com o Instituto de Permacultura da Amazônia (IPA). E foi realizada a conversão do gerador em oficina ministrada por Jorge Nava, do IPA, em 9 e 10 de outubro último.

Jorge Nava explica aos alunos funcionamento do gerador convertido


A oficina contou com a participação de professores e alunos da escola além de assessores do ISA e parceiros da Ajuda da Igreja da Noruega (AIN) e da Organização para Pesquisa de Energia Limpa (ZERO) da Noruega. E o gerador Yamar de 7,5 KWA adquirido pela escola foi convertido e agora opera também com óleos vegetais.

Inicialmente está sendo uytilizado o óleo de cozinha usado, proveniente de alguns restaurantes de Manaus, com os quais a escola estabeleceu parceria, O óleo é coletado em Manaus e enviado para São Gabriel e posteriormente para a escola. Na escola, o óleo é lavado e filtrado, separando-se as impurezas resultantes de seu uso na fritura nos restaurantes e ficando novamente apto à queima no gerador da escola. O óleo de cozinha usado contribui não apenas para a redução do diesel, combustível fóssil, como diminui a quantidade de óleo de cozinha jogado no esgoto de Manaus e que irá contaminar a água dos rios da bacia amazônica.

Kleber da Arte com Peixe espera que outros façam o mesmo que ele



Caso a escola utilize diariamente o gerador estima-se o consumo anual em mil litros de óleo vegetal. Segundo dados do IPA, os restaurantes de Manaus descartam cerca de 30 mil litros de óleo por mês nos sistemas de esgoto que não são tratados e despejados nos igarapés que cortam a cidade e deságuam no Rio Negro. Por enquanto o óleo vegetal consumido pela escola vem de duas fontes: o Ateliê Peixaria Arte com Peixe, ao lado do Teatro Amazonas e a lanchonete Esquina dos Sucos, ambos na região central da capital amazonense. O artista plástico Roberto Kleber, dono do Arte com Peixe, foi o primeiro adotar a idéia e a separar o óleo e enviar para a Pamaáli. "Penso em difundir essa idéia a outras pessoas que possuem negócios como o meu, que utilizam óleo também, para que cada dia mais essa fonte de poluição possa ter um rumo mais apropriado", diz Kléber. "Antes a gente jogava rio abaixo, porque não tínhamos um local apropriado para entregar esse material. Hoje a gente fica satisfeito em enviar o material para essa escola indígena, que domina uma tecnologia especial onde eles vão saber o que fazer".

Produção de óleos com espécies locais e geração hidrelétrica

Para o futuro os pesquisadores Baniwa e Coripaco vislumbram a possibilidade de produção local de óleo a partir de oleaginosas disponíveis na região. Por isso já iniciaram uma pesquisa das oleaginosas disponíveis e planejam a realização de testes do óleo extraído para avaliar a possibilidade utilizá-los no motor sem que ocorram danos à operação.

Além da conversão do gerador, a Escola Pamáali em parceria com o Programa Rio Negro do ISA identificou pequenos geradores hidrelétricos produzidos na Ásia, que serão testados no igarapé Padzoma, próximo à escola. O ISA importou três unidades, com capacidades de geração de 200, 500 e 1000 Watts. Foi realizada também a prospecção da região do igarapé mais adequada à instalação, que deverá ocorrer em breve, utilizando-se o máximo de materiais da região e valorizando-se os conhecimentos indígenas. Para fixação da base onde será colocada a pequena turbina será construída uma estrutura como as utilizadas nas armadilhas de pesca, os chamados “Cacuri”. Dessa forma a técnica construtiva indígena é valorizada e a manutenção pode ser feita localmente, com custo mais baixo e pela própria população.

Modelo para as comunidades indígenas

Com a instalação dos sistemas na Escola Pamáali busca-se demonstrar a viabilidade de geração com fontes renováveis de energia nas comunidades indígenas. Ao investir na geração de energia, as comunidades são obrigadas a recorrer a geradores movidos a gasolina ou diesel, que além de gerarem gases de efeito estufa pela queima de combustíveis fósseis ainda geram dependência em relação a compra do combustível.

Disponibilizar alternativas às comunidades buscando sua independência em relação aos combustíveis fósseis nos mercados locais onde a oferta de geradores a gasolina e diesel é a única opção é o grande desafio. Assim, além da conversão piloto do gerador da escola para uso de óleo vegetal, os jovens que acompanharam o procedimento estão aptos a converter outros motores de comunidades da região. Da mesma forma a turbina que será instalada na escola deverá passar a ser comercializada no mercado local através da interlocução com distribuidores e revendedores de equipamentos de geração de energia.

Escola Pamáali

A Escola Pamáali localiza-se no Médio Rio Içana, próxima da foz do igarapé Pamáali, considerado lugar sagrado para aqueles povos. Para chegar até lá são necessários cerca de um dia e meio de viagem, porque além da distância, é preciso ultrapassar fortes corredeiras. A Pamáali foi criada no ano 2000, quando após uma grande assembléia, os povos baniwa e coripaco decidiram organizar uma escola de acordo com a vivência nas suas comunidades, que valorizasse a sua língua e cultura. Crianças, jovens e adultos de diversas localidades do Içana e afluentes formam o grupo de estudantes recebidos na Pamáali. O ensino é via pesquisa, cada aluno desenvolve um trabalho de pesquisa relacionado com os projetos da escola, tais como: piscicultura, manejo agroflorestal, manejo de lagos, avicultura, artesanatos, entre outros, ou seja, são atividades que promovem o desenvolvimento sustentável das comunidades.

ISA, Gustavo Tosello Pinheiro com a colaboração de Adeilson Lopes da Silva.


INSTITUTO SOS RIOS DO BRASIL
Divulgando, Promovendo e Valorizando
quem defende as águas brasileiras!
ÁGUA - QUEM USA, CUIDA!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seja bem vindo e deixe aqui seus comentários, idéias, sugestões, propostas e notícias de ações em defesa dos rios, que vc tomou conhecimento.
Seu comentário é muito importante para nosso trabalho!
Querendo uma resposta pessoal, deixe seu e-mail.

A legislação brasileira prevê a possibilidade de se responsabilizar o blogueiro pelo conteúdo do blog, inclusive quanto a comentários. Portanto, não serão publicados comentários que firam a lei e a ética.

Por ser muito antigo, o quadro de comentários do blog ainda apresenta a opção comentar anônimo; mas, com a mudança na legislação,

....... NÃO SERÃO PUBLICADOS COMENTÁRIOS DE ANÔNIMOS....

COMENTÁRIOS ANÔNIMOS, geralmente de incompetentes e covardes, que só querem destruir o trabalho em benefício das comunidades FICAM PROIBIDOS NESTE BLOG.
No "COMENTAR COMO" clique no Nome/URL e coloque seu nome e cidade de origem. Obrigado
AJUDE A SALVAR OS NOSSOS RIOS E MARES!!!

E-mail: sosriosdobrasil@yahoo.com.br