Reserva Águas Emendadas, com 10.547,62 hectares tem
nascentes de importantes bacias hidrográficas
Filho de uma portuguesa e de um alemão, Francisco Adolfo de Vargnhagen entrou para a história do Brasil como um dos primeiros pesquisadores a visitar o centro do país. Estava entre os que defendiam a interiorização da capital mais de um século antes da Brasília de Juscelino Kubtischek ter sido inventada.
Em livro de 1877, Vargnhagen, já conhecido como Visconde de Porto Seguro, indica uma área no Planalto Central perfeita para a construção de uma cidade. Ali, as três grandes bacias hidrográficas brasileiras estavam “a menos de um tiro de fuzil”.
Parte do cenário descrito pelo estudioso Vargnhagen é onde hoje se localiza a Estação Ecológica de Águas Emendadas. No local, as nascentes do córregos Veredas e Brejinho correm para lados contrários —daí o nome de batismo da estação.
A partir das duas nascentes, se formam cursos d’água que desembocam no Rio Tocantins (Bacia do Tocantins/Araguaia) e no Rio Paraná (Bacia do Paraná/Prata).
O ponto de origem da terceira grande bacia, a do São Francisco, está a poucos quilômetros dali, fora da área protegida.
Criada em 12 de agosto de 1968, a estação ecológica permitiu que um pedaço do cerrado virgem percorrido por Vargnhagen continuasse intocado. Mas, nos últimos anos, o local sofre com pressões externas. “É uma das reservas de cerrado mais importantes do Brasil, mas está sendo asfixiada pelo entorno”, afirma Gustavo Souto Maior, presidente do Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos do Distrito Federal (Ibram).
As ameaças são o crescimento urbano, o parcelamento do solo e a ocupação das áreas próximas com culturas agrícolas intensivas. Mas há perspectivas de assegurar essa riqueza ambiental no futuro: pela primeira vez, um plano de manejo para Águas Emendadas está sendo preparado. O documento determinará o que pode ser feito, como e por quem dentro e nas cercanias do parque. O plano de manejo será entregue até o fim do ano.
Riquezas
O terreno de Águas Emendadas corresponde a 10.547,62 hectares, o equivalente a 26 vezes a área do Parque da Cidade. Desde a criação, o local tem sido esquadrinhado por pesquisadores da Universidade de Brasília e de instituições particulares de ensino, o que reforça a importância dele para o DF. “É uma reserva importantíssima.
Praticamente todos os ambientes de vegetação do cerrado são encontrados lá. Isso representa enorme biodiversidade”, explica Tarciso Filgueiras, pesquisador do IBGE e professor da pós-graduação da UnB.No campo de estudos de Filgueiras, a botânica, chama a atenção a vereda de buritis de 5 quilômetros de extensão que demarca a área onde as nascentes de água brotam. Mas também são importantes para o conhecimento científico as matas de galeria, os cerradões, os cerrados sensu stricto e os campos limpos.
“Águas Emendadas tem ainda um grande conteúdo simbólico, é o ponto de ligação entre as grandes bacias”, comenta o professor Tarciso Filgueiras. Os entroncamentos de cursos d’água permitem que as trocas genéticas entre os animais e as plantas sejam intensas na área. “Lugares assim são fundamentais para a diversificação das espécies”, completa.
Nos inventários feitos pelos pesquisadores na estação já foram registradas 1.738 espécies de plantas, 67 de mamíferos, 24 de anfíbios e 51, de répteis. Nos céus, pelo menos 307 espécies de aves já foram reconhecidas. “A visão dos criadores da estação é louvável.
Há 40 anos, eles sabiam que a conservação do cerrado na nova capital dependeria do cuidado com aquela área”, comenta o professor Jader Marinho, do Departamento de Zoologia da UnB. Entre os “pais” da estação estão geógrafos, botânicos e naturalistas.
A especialidade do professor Jader Marinho são os mamíferos. Dentro da estação ecológica, há pelo menos sete espécies deles ameaçadas de extinção: tatu-canastra, tamanduá-bandeira, morceguinho-do-cerrado, lobo-guará, suçuarana, jaguatirica e rato-do-mato. “Por ser uma área de proteção integral, Águas Emendadas permite que os animais sejam protegidos e, ao mesmo tempo, estudados”, afirma o professor. “Mais de um terço da fauna do cerrado está representada ali, então temos uma importante amostra das populações”, completa Marinho.
Ameaças
Os pesquisadores, contudo, preocupam-se com o que acontece nas fronteiras de Águas Emendadas. Os parcelamentos irregulares e a agricultura intensiva representam pressão intensa para a fauna e flora da estação ecológica. Também podem interferir na qualidade da água, no caso de os lençóis freáticos serem contaminados por fertilizantes ou fossas clandestinas. “A estação está ilhada.
A ocupação desordenada do solo coloca em risco o patrimônio ambiental de Águas Emendadas”, afirma o professor Jader Marinho.A proximidade com a rodovia e a caça ilegal são outras ameaças. Para exemplificar o impacto delas, Marinho lembra que nos anos 90, uma pesquisa confirmou a existência de 10 lobos-guará na área. Hoje, sabe-se que existem apenas dois.
A população de capivaras também está diminuindo. Quem dá testemunho disso é o coordenador de unidades de conservação do Ibram, Aylton Lopes. Funcionário do GDF desde 1991, com escritório fixo em Águas Emendadas, Aylton Lopes conta que às margens da Lagoa Bonita era possível ver até uma centena de capivaras. Atualmente, apenas umas quarenta costumam aparecer. “Os vizinhos caçam, matam ou prendem. Ano passado, encontramos uma que estava sendo criada como um leitão em uma chácara próxima”, relata Aylton Lopes.
Aniversário
Em comemoração por seus 40 anos, Águas Emendadas ganhou um livro de luxo em que estão detalhadas a história da estação ecológica, informações sobre o fenômeno hidrológico das nascentes, a fauna e a flora do local.
O exemplar de 542 páginas publicado pela Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente (Seduma) também aponta as principais ameaças que a área sofre atualmente.
O lançamento do livro, ontem de manhã, contou com a presença do governador José Roberto Arruda. Ele garantiu a fiscalização do uso do solo nas áreas próximas à estação. “Dentro do limite de Águas Emendadas estão as nascentes das bacias do Araguaia e Tocantins e do Prata.
Temos que preservar essa região. E para isso é preciso que o crescimento das cidades seja organizado. O crescimento indisciplinado é a maior ameaça ao meio ambiente”, disse Arruda.
A RESERVA
10.547,62 hectares
1.738 espécies de plantas,
117 frutíferas
67 espécies de mamíferos, entre elas sete ameaçadas de extinção
24 espécies de anfíbios e 51 de répteis
307 espécies de aves
Veja mais fotos da Reserva -
Click
Ótima matéria sobre a Estação Ecolágica de Águas Emendadas. Quanto ao plano de manejo que você faz referência já está pronto, o resumo executivo está disponivel na internet, para mis informações clique no link: http//aguasemendadas.com
ResponderExcluirGrato.
oi eu quero ajudpreservarar a
ResponderExcluir