JOSÉ ERNESTO CREDENDIO - Folha de S.Paulo - 27/08/2008
Uma falha no sistema de coleta de esgoto da Sabesp contaminou um córrego que cruza o parque estadual do Tizo, uma área de 1,3 milhão de m2 --tamanho semelhante ao do Ibirapuera- quase toda tomada por mata atlântica, na zona sudoeste da Grande São Paulo.
A mancha de esgoto sem tratamento levou a Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente de São Paulo a aplicar uma multa de R$ 1,2 milhão à Sabesp, empresa do governo de São Paulo. A Sabesp também foi notificada a corrigir os danos provocados no local.
Falha no sistema de coleta de esgoto da Sabesp contaminou um córrego que cruza o parque estadual do Tizo.
Segundo a secretaria, o esgoto chega ao córrego do Itaim por meio de uma canaleta de drenagem natural, nas proximidades da praça Carlos Alberto Leitão e da rua Savério Quadrio, no distrito de Raposo Tavares (zona oeste de SP).
A Savério Quadrio é a última fronteira entre o bairro e o parque, próxima ao km 19 da rodovia Raposo Tavares. Bem ao lado da rua, a contaminação provocada por efluentes já surge. A Sabesp apresentou justificativas à secretaria, mas as explicações não convenceram os técnicos da fiscalização.
Procurada pela Folha, a empresa afirmou que o problema aconteceu em razão do lançamento irregular de entulho e restos de construção civil, o que danificou a rede, mas que pretende implantar um sistema adequado naquela região.
A Sabesp diz ainda que, para implementar melhorias no sistema de esgoto, depende de medidas que devem ser tomadas pela Prefeitura de São Paulo.
De acordo com a secretaria, o esgoto parte das casas do conjunto habitacional Jardim Amaralina, construído pela CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano). Segundo a secretaria, a rede está "deteriorada".
Despejos irregulares
Além da contaminação provocada pela falha na tubulação, moradores da região ainda afirmam que mananciais do parque vêm sendo contaminados pelo despejo de água lançada por casas sem sistema de coleta de esgoto no Parque do Ipê.
O Tizo foi criado em 2006, no governo Geraldo Alckmin (PSDB), após reivindicações feitas pelos moradores de São Paulo, Cotia, Osasco, Taboão da Serra e Embu --o parque se estende por essas cidades.
Um levantamento divulgado pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente concluiu que o Tizo preserva 600 mil m2 de mata atlântica original, além de outros 340 mil m2 em processo de regeneração, formando uma das mais importantes áreas verdes da Grande São Paulo.
Mata e animais
Além de várias nascentes, também são encontrados na mata atlântica animais como capivaras, veados, quatis e tatus, além de diversas espécies de aves e répteis.
Um trabalho realizado pela bióloga Silvana dos Santos, professora da Universidade Federal da Paraíba, catalogou árvores como jequitibás, figueira nativa e carvalho brasileiro.
Ex-integrante do conselho orientador do parque, Solange Martins afirma que a poluição vem afetando praticamente todo o Tizo. "Ali é tudo interligado. O córrego do Itaim é importante, mas não dá para avaliar a contaminação isoladamente. Até a mata é afetada", diz.
A Folha percorreu no último sábado a trilha que atravessa o parque. Logo na entrada secundária surgem os primeiros sinais de contaminação --a água do córrego fica esbranquiçada logo após o local onde são despejados os efluentes.
O curso d'água serpenteia pelo parque até desaparecer em meio à mata fechada, em que há restos deixados por freqüentadores do local, apesar da vigilância. Do outro lado do parque, a Polícia Florestal levantou indícios de venda irregular de lotes em áreas públicas.
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