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21 de agosto de 2008

USP: 15 MILHÕES DE PNEUS POLUEM A NATUREZA POR ANO

Segundo especialistas da USP, aqui no Brasil, 16,3 milhões de pneus de automóvel teriam sido dispensados na natureza, sendo que boa parte em nossos rios e córregos.


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21/8/2008
Thiago Romero

Pesquisadores da Poli-USP calculam que são dispensados na natureza, em média, 14,9 milhões de pneus por ano, considerando os índices de produção, importação e reciclagem do produto

Em 2006, foram reciclados no Brasil 48,1 milhões de pneus que não prestam mais para uso em automóveis, o equivalente a 240,6 mil toneladas. No mesmo ano foram produzidas no país cerca de 54,5 milhões de unidades. Outras 28,6 milhões foram importadas, sendo parte comprada para reforma e venda como pneus meia-vida.

Considerando que 18,7 milhões de peças foram exportadas no mesmo ano, fica evidente a existência de um preocupante passivo ambiental de, pelo menos, 16,3 milhões de pneus de automóvel que teriam sido dispensados na natureza naquele ano.
É o que destaca um estudo feito por Carlos Alberto Lagarinhos e Jorge Alberto Tenório, do Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da Escola Politécnica (Poli) da Universidade de São Paulo (USP). O trabalho, que apresenta as tecnologias utilizadas no Brasil para a reutilização, reciclagem e valorização energética do produto, foi publicado na revista Polímeros.

O estudo também avaliou o passivo ambiental de 2002 a 2006, com base em dados coletados em instituições como a Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (Anip), o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
“Ao calcular o número de pneus produzidos, importados, exportados e reciclados nesse período, temos uma média de 14,9 milhões de pneus que teriam sido gerados e descartados na natureza anualmente, uma vez que supostamente não houve coleta e destinação correta desse material”, disse Lagarinhos à Agência FAPESP.

O estudo lembra que em 1999 foi aprovada no Brasil a resolução nº 258 do Conama, que instituiu a responsabilidade do produtor e do importador pelo ciclo total do produto. De acordo com a resolução, desde 2002 os fabricantes e importadores de pneus no Brasil devem coletar e dar a destinação final para as peças usadas, sendo os distribuidores, revendedores, reformadores e consumidores finais também co-responsáveis pela coleta dos pneus servíveis e inservíveis (que não têm mais uso em veículos). Estima-se que um pneu leve mais de 500 anos para se decompor na natureza.
Segundo Lagarinhos, um dos pontos positivos da resolução foi a criação do cálculo que permite estabelecer o objetivo para a reciclagem de pneus, cujo percentual precisa estar acima do nível de produção a fim de eliminar o passivo ambiental existente.
“De 2002 a 2006, apenas no primeiro ano foi atingido o objetivo de reciclagem do Conama. Ou seja, de cada quatro pneus produzidos, um foi reciclado, atingindo o índice de 25% estabelecido pela resolução”, disse.

Para 2003, 2004 e 2005, a resolução nº 258 estabeleceu que o índice aumentaria, respectivamente, para 50%, 100% e 125%, porcentagem que se mantém até hoje. Ou seja, atualmente, de cada quatro pneus produzidos em todo o país, teoricamente é preciso reciclar cinco unidades, deixando de jogá-las no meio ambiente.
Economia com a reciclagem
O estudo aponta ainda que, de 2002 a 2006, foram recicladas 805,2 mil toneladas de pneus inservíveis no Brasil, o equivalente a 161 milhões de peças.
A quantidade reciclada, em unidades ou peso, é reportada anualmente pelas empresas de reciclagem e associações ao Ibama por meio do Relatório Anual de Atividades do Cadastro Técnico Federal (CTF). No caso dos pneus importados, a reciclagem de pneus antecede a liberação dos pneus novos importados.

“A resolução nº 258, apesar de estar em vigor e subsidiar a aplicação de multas pelo Ibama aos fabricantes de pneus e empresas que não cumpriram as metas de reciclagem, está desde 2005 em avaliação pelo instituto, seguindo o cronograma previsto no documento que a criou”, explicou Lagarinhos.
Entre as vantagens da recapagem e recauchutagem de pneus estão o emprego de apenas 25% do material utilizado na fabricação de um pneu novo e a economia de 57 litros de petróleo por pneu reformado. “Isso representa uma economia de 798 milhões de litros de óleo diesel por ano ao Brasil”, disse.
Segundo o pesquisador, na Europa 20% dos veículos de passeio e utilitários, 50% da frota de caminhões e 98% dos aviões das linhas aéreas internacionais utilizam pneus remoldados. No Brasil esse mercado está crescendo e, em 2006, foram produzidos 2,4 milhões de pneus remoldados.

Ainda são escassos, segundo Lagarinhos, os estudos sobre o volume de pneus produzidos, reciclados e dispensados na natureza no Brasil. “Calcula-se, segundo dados da literatura científica, a existência de pelo menos 100 milhões de unidades descartadas no meio ambiente. Esse número leva em conta toda a produção da indústria de pneus, desde sua implementação no país no fim da década de 1930”, apontou.
O descarte de pneus usados chega a atingir, anualmente, a marca de quase um bilhão de unidades em todo o mundo, segundo dados da Associação Japonesa dos Fabricantes de Pneus Automotivos.
Para ler o artigo Tecnologias utilizadas para a reutilização, reciclagem e valorização energética de pneus no Brasil, disponível na biblioteca on-line SciELO (Bireme/FAPESP), clique aqui.
Fonte: Agência FAPESP/Portal Ambiente Brasil

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