Carcinicultura impactou a pesca artesanal , uma vez que os dejetos utilizados no cultivo compromete a vida marinha
Manguezais são ameaçados pelas fazendas de camarão na Baía
Qui, 01/Out/2009 - Jornal Correio da Bahía
Carmen Vasconcelos
Aposta da economia baiana da década de 80, a criação de camarão (carcinicultura) está em franco declínio, principalmente depois que o dólar entrou em queda. A prática não pereceu sozinha: levou junto parte dos manguezais nas regiões de Salinas da Margarida, Santo Amaro e Saubara - verdadeiros berçários marinhos da Baía de Todos os Santos.
A situação chegou a tal ponto que uma ação judicial movida pelo Ministério Público proibiu a liberação de novos projetos de carcinicultura em toda a costa baiana. Seguindo a orientação da Justiça, o Instituto do Meio Ambiente (IMA) também indeferiu pedido de liberação de fazendas de camarão em áreas que não estivessem ambientalmente regularizadas ou onde não houvesse um estudo dos impactos ambientais.
Até o início da década de 90, as fazendas eram implantadas sem esse cuidado. Segundo a representante do IMA e membro da Coordenação de Projeto Agrossilvipastoris (Coagro), Ana Cristina Farias Lima, a partir de agora, o instituto passará a analisar as renovações de licenças das fazendas já existentes dentro dos critérios estabelecidos pela Justiça. O Ibama, por sua vez, fica responsável pela fiscalização nas áreas em que se cultivam camarões para garantir que os manguezais não voltem a ser devastados.
Lição
Com saudades dos tempos em que peixes e mariscos eram fartos, o pescador Ernandes Carlos Lopes diz que o problema é que o mar não rejeita ninguém. “Todo o mundo pesca, todo o mundo tira o sustento e esquece que é preciso ir com calma para não faltar para todo o mundo”, diz ele.
Para o diretor técnico da Bahiapesca - órgão de capital misto, que representa o estado e a iniciativa privada -, Marcos Rocha, a preocupação dos órgãos de proteção ambiental e ambientalistas é absolutamente legítima, mas é necessário não demonizar o cultivo do camarão. “Temos bons e maus cultivadores. Infelizmente, a prática destrutiva desses últimos termina por comprometer a visão dessa produção, que é necessária numa perspectiva de produção de alimento e movimentação da economia do estado”, explica.
Rocha lembra ainda que quando a carcinicultura iniciou não havia uma preocupação com o meio ambiente como existe hoje. Ele ressalta que a realidade mudou e que práticas prejudiciais ao meio ambiente estão sendo deixadas de lado em nome da sobrevivência da atividade.
Redução de pescado preocupa
Pescador há mais de 30 anos, o biólogo Roberto Pantaleão lembra que quando o assunto é a redução do pescado e a destruição do meio ambiente, vários aspectos precisam ser levados em consideração. “É fácil encontrar um vilão na produção de camarão, mas a verdade é que a destruição das matas ciliares (aquelas que nascem nas margens de rios) e da vegetação de mangues, o crescimento das cidades e, consequentemente, o lançamento de efluentes no mar são os grandes responsáveis por essa destruição do meio ambiente”, ressalta.
Cultivo de camarão pelas empresas não é
o único vilão ambiental, alerta especialista
Foto: Arquivo CORREIO
Ele lembra que o impacto de ações cotidianas, como o despejo da água da pia misturada com detergente é monstruoso para o meio ambiente. “Costumamos acreditar que a poluição é responsabilidade das grandes empresas e esquecemos da nossa contribuição doméstica”, diz Pantaleão, que também atua na organização não-governamental Fundipesca, que há 20 anos atua com o desenvolvimento sustentável das comunidades de pescadores e marisqueiras da BTS.
95% do pescado consumido pelos homens é proveniente das regiões de manguezais. Por essa razão, a sua manutenção é vital para a subsistência das comunidades pesqueiras que vivem em seu entorno. Servem ainda para fixar os solos.
172 mil km² é a área estimada de mangues em todo o planeta. As raízes do mangue funcionam como filtros na retenção dos sedimentos e se constituem como importante banco genético para a recuperação de áreas degradadas.
26 mil km² ou seja, cerca de 15% dos mangues de toda a Terra se encontram no Brasil, numa área que vai do Amapá até Laguna, em Santa Catarina. A Ilha de Fernando de Noronha é a possuidora da menor extensão de manguezal no país.
Diversidade e complexidade em meio ao mangue
Os manguezais são um dos ecossistemas mais complexos, férteis e diversificados do planeta, desempenhando um importante papel como exportador de matéria orgânica para os estuários, contribuindo para a produtividade primária na zona costeira. A biodiversidade faz com que essas áreas sejam grandes “berçários” naturais.
95% do pescado consumido pelos homens é proveniente das regiões de manguezais. Por essa razão, a sua manutenção é vital para a subsistência das comunidades pesqueiras que vivem em seu entorno. Servem ainda para fixar os solos.
172 mil km² é a área estimada de mangues em todo o planeta. As raízes do mangue funcionam como filtros na retenção dos sedimentos e se constituem como importante banco genético para a recuperação de áreas degradadas.
26 mil km² ou seja, cerca de 15% dos mangues de toda a Terra se encontram no Brasil, numa área que vai do Amapá até Laguna, em Santa Catarina. A Ilha de Fernando de Noronha é a possuidora da menor extensão de manguezal no país.
Diversidade e complexidade em meio ao mangue
Os manguezais são um dos ecossistemas mais complexos, férteis e diversificados do planeta, desempenhando um importante papel como exportador de matéria orgânica para os estuários, contribuindo para a produtividade primária na zona costeira. A biodiversidade faz com que essas áreas sejam grandes “berçários” naturais.
Manguezais: berçários naturais são ameaçados
Foto: Marina Silva
Disputa por terra e produção trouxe conflitos para a BTS
A criação de camarão também acirrou os conflitos envolvendo as comunidades pesqueiras mais tradicionais e as empresas de cultivo. A briga por terras e pelo alimento teve o seu ápice em 2005, em Salinas da Margarida, quando o pescador Paulo Marinho de Almeida, 33, foi sequestrado e executado com um tiro na cabeça.
Iniciativas privadas dificultam acesso de pescadores ao mar
A representante da Secretaria Nacional da Rede Brasileira de Justiça Ambiental, Cecília Mello, assegura que a prática descuidada do cultivo de camarão na BTS gerou um enorme passivo ambiental, além de muitos conflitos sociais. “Como se não bastasse, algumas empresas impedem que pescadores tenham acesso ao mar”, denuncia.
Fonte: REBIA Nacional / Jornal Correio da Bahia .
INSTITUTO SOS RIOS DO BRASIL
Divulgando, Promovendo e Valorizando
quem defende as águas brasileiras!
ÁGUA - QUEM USA, CUIDA!
A criação de camarão também acirrou os conflitos envolvendo as comunidades pesqueiras mais tradicionais e as empresas de cultivo. A briga por terras e pelo alimento teve o seu ápice em 2005, em Salinas da Margarida, quando o pescador Paulo Marinho de Almeida, 33, foi sequestrado e executado com um tiro na cabeça.
Iniciativas privadas dificultam acesso de pescadores ao mar
A representante da Secretaria Nacional da Rede Brasileira de Justiça Ambiental, Cecília Mello, assegura que a prática descuidada do cultivo de camarão na BTS gerou um enorme passivo ambiental, além de muitos conflitos sociais. “Como se não bastasse, algumas empresas impedem que pescadores tenham acesso ao mar”, denuncia.
Fonte: REBIA Nacional / Jornal Correio da Bahia .
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