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1 de outubro de 2009

OS DESAFIADORES PROBLEMAS DA BAÍA DE TODOS OS SANTOS - SALVADOR (BA)

Composta por 56 ilhas, a Baía de Todos os Santos se tornou uma Área de Proteção Ambiental (APA) em junho de 1999. A principal ilha é a de Itaparica, com 239 km2 e 40 km de litoral.


Desafio: Baía de Todos os Santos
precisa crescer e ser sustentável

Carmen Vasconcelos

Redação CORREIO 24 HORAS

“Seria difícil de imaginar, antes de ver no panorama, algo tão magnífico. (…)A cidade fica bem aninhada em uma floresta luxuriosa e situada em uma margem íngreme, observa as águas calmas da grande Baía de Todos os Santos”. De 1832, quando o cientista Charles Darwin navegou pelas águas da terceira maior baía do mundo, para os dias atuais, muita coisa mudou nesse cenário.


Cartão-postal visto a partir da Ponta Humaitá: parte da beleza
e encantamento está em risco, sobretudo pela poluição
Foto: Robson Mendes

A floresta luxuriosa perdeu espaço para a ocupação desordenada, a implantação de indústrias, portos e atividades petrolíferas. No fundo das águas, já não tão calmas, repousa o constante medo de contaminação por metais pesados, além dos riscos da prática da pesca predatória. A Baía de Todos os Santos não é mais aquela e o CORREIO passa a publicar uma série de reportagens que aborda, entre outras coisas, os dez maiores problemas ambientais desse espaço e o que vem sendo feito para resolvê-los.


A unidade de proteção da BTS surgiu há dez anos
Foto: Antonio Saturnino


Segundo a gestora da Área de Preservação Ambiental (APA) da Baía de Todos os Santos (BTS), Daniela Blinder, os maiores problemas enfrentados no espaço dizem respeito ao longo processo de ocupação humana, realizado semos devidos cuidados com o impacto para o meio ambiente. “Os efeitos disso podem ser sentidos não apenas no ecossistema, mas na sobrevivência humana e na qualidade de vida”, pontua.

Problemas
O excesso de indústrias; o descontrole das atividades portuárias e petrolíferas; a realização de um tipo de turismo que impacta o meio ambiente; o crescimento das atividades de carcinicultura (cultivo do camarão) nos manguezais; a poluição no fundo do mar com mercúrio e chumbo; o esgotamento sanitário deficiente; a pesca com bomba; a destruição da mata atlântica; e a poluição atmosférica são destacados como os maiores complicadores para o desenvolvimento sustentável desse espaço, que compreende 54 ilhas, 14 municípios, um espelho d'água de 1.100 quilômetros quadrados, áreas remanescentes de mata atlântica, além de manguezais.



Atividade industrial é uma das maiores ameaças
à pesca artesanal e ao meio ambiente
Foto: Marina Silva


Na verdade, a BTS é um golfo que conta com duas grandes baías -Iguape e Aratu- e dezenas de enseadas. O desafio de aliar progresso e sustentabilidade é grande, mas não é impossível, e a Baía deTodos os Santos ou Kirimurê (que na língua dos tupinambás significa“ grande mar interior”) segue impressionando por seu passado histórico, a biodiversidade e os potenciais econômico e turístico que ainda estão por ser explorados.

Esse conjunto de possibilidades, inclusive, vem despertando interesses de diversos órgãos governamentais e não-governamentais, ligados ao turismo, meio ambiente, saúde e pesquisa.

Conhecer para investir


À frente de um desses programas está a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb), que desenvolve o Projeto Kirimurê, em conjunto com as quatro universidades estaduais baianas (Uneb, Uefs, UesbeUesc) e as duas universidades federais (Ufba e UFRB). Segundo a diretora geral da Fapesb, Dora Leal, a meta é criar uma rede multidisciplinar e integrada de informações sobre esse espaço que possa fundamentar as políticas públicas de fomento para a região.


A poluição dos esgotos domésticos
contamina a região dos mangues
Foto: Antonio Saturnino


“Esse projeto visa reunir todo o conhecimento existente sobre a baía e sistematizá- lo para que novos saberes possam ser elaborados a partir daí”, esclarece, lembrando que o Kirimurê tema duração de 30 anos, divididos em ondas de cinco anos, e contará com a participação de outros órgãos, como a Fundação Pedro Calmon.

Outra iniciativa que também promete trazer benefícios para a baía e as comunidades do entorno é o plano de manejo da APA, assinado no final do mês passado entre o governo do estado e a Universidade Federal da Bahia (Ufba), Universidade do Estado da Bahia (Uneb) e Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs).

O plano - que equivale ao plano diretor de um município - tem a previsão de durar 16 meses e vai envolver 60 especialistas de áreas diversas. A perspectiva é que, ao final da realização das três etapas do processo, os órgãos que atuam com o meio ambiente possam estar munidos de informações e dados que digam, por exemplo, onde e como permitir o licenciamento para construção de resorts, moradias e indústrias.



Produtos químicos perigosos são transportados em Aratu
Foto: Antonio Saturnino


Daniela Blinder acredita que essas informações também serão fundamentais para que os dez maiores problemas enfrentados hoje pelas comunidades do entorno e pelo ecossistema possam ser minimizados de maneira a garantir que o espaço de mangue, mata atlântica e oceano possa ser preservado “Há muitos anos pleiteávamos a implantação dessa proposta”, informa.

Passo a passo


O plano de manejo da Baía de Todos os Santos será desenvolvido em três momentos distintos. O primeiro - que está sendo iniciado - tem como objetivo traçar um diagnóstico da situação atual da fauna e flora locais, pontuando os conflitos ambientais. Na segunda etapa, os pesquisadores e técnicos identificarão as vocações de atividades já existentes e o que é possível realizar nos próximos anos.

No terceiro e último momento, os participantes elaborarão um planejamento propriamente dito, com a execução de programas de educação ambiental e de unidades de conservação.

Registro Geral

Considerada a segunda maior da costa brasileira, a Baía de Todos os Santos só perde para a de São Marcos, no Maranhão. Durante o período colonial, as ilhas e municípios situados ao seu redor se organizaram em torno da produção e exportação do açúcar e do tabaco, entre outras atividades.

Espalhada por mais de 16 mil km², seu passado histórico possibilitou a implantação de um grande parque de arquitetura barroca, um dos mais importantes do país. Foi nos anos 50 que a região retomou sua importância, com a instalação da Refinaria Laudulpho Alves, em Mataripe. Em 1957, foi criado um terminal marítimo na ilha de Madre de Deus. Mas isso não foi suficiente para revitalizar a região.

Ambiente e cultura

A unidade de proteção ambiental da Baía de Todos os Santos foi criada há dez anos. Na época, o principal objetivo da iniciativa era conservar e proteger as ilhas, manguezais e águas de um dos maiores golfos do Brasil. A preocupação se justifica pelo fato da região ser possuidora de grande beleza cênica e ecossistemas ricos em biodiversidade.

Na região da contracosta da Ilha de Itaparica, na Baía de Iguape, em Salinas da Margarida e Jaguaripe é possível encontrar áreas de mangue bem conservados, além dos remanescentes de mata atlântica.

Os dez maiores problemas

1. Excesso de indústrias - Itaparica, Salinas da Margarida e Santo Amaro

Santo Amaro, por exemplo, sofreu ao longo das últimas três décadas as consequências da poluição e a contaminação por chumbo (Pb) e cádmio (Cd), em nível endêmico. A Companhia Brasileira de Chumbo produziu e comercializou cerca de 900 mil toneladas de liga de chumbo, gerando um passivo ambiental de rejeito de minério.

2. Atividades petrolíferas na área - Terminal de petróleo de Aratu e o Polo Petroquímico de Camaçari

Em abril deste ano, um vazamento de aproximadamente 2,5 mil litros de óleo atingiu as praias de Coqueiro Grande até Caípe, na Baía de Todos os Santos. O óleo atingiu cinco quilômetros de praia e avançou um quilômetro adentro no manguezal do Rio Mataripe e 200 m no manguezal do Rio Caípe.

3. Descontrole da atividade portuária - Aratu e Salvador

Os portos de Salvador e Aratu não possuem controle dos impactos causados pela navegação, transporte de poluentes e lavagem dos navios. O resultado disso é a descarga de material poluente no mar, intoxicando fauna, flora, praias e os habitantes das localidades próximas, que se contaminam com o contato com os resíduos industriais.

4. Fundo do mar com mercúrio e chumbo - Toda a BTS

A presença do porto de Aratu, da Base Naval, dos terminais da Ford e do Moinho Dias Branco é um fator de risco para a baía. Além delas há mais de cem empresas dos ramos mecânico, têxtil, petroquímico, agrícola e siderúrgico que, nos últimos 60 anos, desenvolveram suas atividades às margens do mar, liberando metais como cobre, cromo, chumbo, zinco, manganês e mercúrio. A situação piora quando os portos realizam dragagens para ampliar a profundidade.

5. Pesca com bomba - Contracosta de Itaparica, Manguinhos, Jeribatuba, Cacha-Pregos e Ilha de São Gonçalo

A prática representa um dos maiores danos ao ecossistema da baía. Em Salvador, a pesca com bomba é feita na Praia do Cantagalo, Solar do Unhão e na Enseada dos Tainheiros, além da Ponta do Ferrolho, no subúrbio ferroviário. Esse tipo de atividade destrói a flora e a fauna marinhas, compromete os corais e locas submarinas, além de causar danos aos monumentos.

6. Esgotamento sanitário deficiente - localidades do entorno

O processo de industrialização da região, iniciado nos anos 50, ocasionou o rápido crescimento demográfico local, contribuindo significativamente para o desencadeamento de problemas ambientais, principalmente em virtude dos esgotos lançados ao mar semo tratamento adequado. Estima-se que habitem 3,5 milhões de pessoas no entorno. O desafio reside em garantir um nível satisfatório de desenvolvimento social, econômico e ambiental.

7. Desmatamento da mata atlântica - Mangues

Apesar da Bahia possuir um dos remanescentes mais significativos de Mata Atlântica no Nordeste, ela sofre desmatamentos em toda sua extensão. A agressão contra esse meio não é recente e vem desde o início da colonização, quando a vegetação foi retirada para garantir a ocupação humana e a construção de embarcações.

8. Turismo que imapacta o meio ambiente - Toda BTS

O visual calmo e bucólico da BTS, aliado ao seu rico passado histórico, é um convite para o turismo. Se o potencial econômico pode ser gerador de emprego e renda, também pode ocasionar um grande prejuízo para o meio ambiente, principalmente com a produção de lixo e dejetos que são lançados no mar e vão parar nas praias.

9. Carcinicultura nos mangues - Salinas e Saubara

A expansão da criação de camarão em cativeiro ocupa espaços que, anteriormente, eram utilizados pela pesca artesanal, canalizando do mangue um caldo rico em nutrientes para alimentar os camarões e devolvendo para o ambiente uma água contaminada com antibióticos, substâncias químicas e restos de ração. Geralmente, as fazendas se apropriam de espaços até esgotá-los para, em seguida, ocupar outras áreas nativas.

10. Poluição atmosférica - Regiões próximas às indústrias

Os resíduos ambientais das indústrias presentes na Baía de Todos os Santos colaboram para saturar o ar com poluição e odores provenientes de resíduos. O problema possui um impacto particularmente importante para as comunidades moradoras das ilhas, especialmente em Bananeiras, na Ilha de Maré. No local, os moradores se queixam de dificuldades respiratórias, alergias e mau cheiro constantes.

(Notícia publicada na edição impressa do dia 27/09/2009 do CORREIO)

SAIBA MAIS:


Ilha de Maré pede socorro e a população fica sem assistência

As maravilhosas fotos da Baía de Todos os Santos - Nilton Souza


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