Apesar do recorde de calor atingido por São Paulo na última semana, desde o mês passado, uma campanha chamada One Degree Less (Um Grau a Menos) aponta uma solução relativamente simples para diminuir a temperatura no interior das casas e, de quebra, reduzir o aquecimento global em 1ºC: pintar telhados de branco.
Criada pela GBC (Green Building Council), uma entidade que promove mundialmente o uso de tecnologias sustentáveis na construção civil, a campanha se baseia em um estudo científico do Berkeley Lab., laboratório ligado ao Departamento de Energia dos EUA.
De acordo com esse estudo, a pintura de telhados e lajes superiores com cores claras reduz a temperatura no interior das edificações em cerca de 6°C, pois o branco reflete até 90% dos raios solares, enquanto a telha cerâmica comum absorve essa mesma porcentagem de calor.
Como consequência, o consumo de energia ligado à refrigeração dos ambientes (ar-condicionado e ventiladores) diminui entre 20% e 70%, o que, por sua vez, reduz a emissão de CO2 na atmosfera.
"Se 30% a 40% dos telhados mundo forem pintados, a temperatura da Terra poderia cair em 1°C, por isso o nome da campanha", diz Marcos Casado, gerente técnico da GBC.
Mas algumas mãos de tinta seriam tão eficazes a ponto de ajudar em um problema tão complexo quanto o aquecimento do planeta?
Arquitetos ouvidos pela Folha fazem ressalvas, mas são categóricos ao afirmar que pintar os telhados e até paredes que tenham alta incidência solar reduz 'de forma impactante' as temperaturas ambientes.
Nelson Solano Vianna, arquiteto e consultor de conforto ambiental e energia, diz que não é possível precisar em quanto a pintura reduz a temperatura interna de uma residência.
"Isso depende muito da posição da edificação em relação ao sol, da quantidade de janelas, que permitem a entrada de calor, e até da localização geográfica. Mas, de maneira geral, [a pintura clara] é muito importante e extremamente eficiente no controle de calor."
Vianna ressalta que é preciso fazer manutenção periódica da pintura e recomenda que seja feita em novembro, quando se inicia o período de maior incidência do sol no hemisfério sul.
A arquiteta Leiko Motomura, que trabalha com o conceito de arquitetura de mínimo impacto sobre o meio ambiente, é cautelosa quanto à pintura clara.
"A produção da tinta também agride a natureza. É possível fazer um sistema de ventilação entre o forro e o teto que é bastante eficiente no resfriamento da edificação."
O preço dessa ação politicamente correta é razoável: um galão de 18 litros da tinta especial para telhados custa cerca de R$ 170, enquanto a tinta convencional para exteriores sai a R$ 125.
Já a telha cerâmica pintada custa em média R$ 1,60 a peça, enquanto a vermelha convencional sai a R$ 0,50.
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