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19 de março de 2009

SÃO PAULO ESTÁ PREPARADA PARA AS CHUVAS?


Investimentos estruturais e conscientização

Prof. Dr. João Batista Mendes -Poli/USP e UNINOVE
Casa da Notícia Comunicação - 19/03/2009

Bueiros entupidos também são vilões das enchentes. Participação da população pode amenizar o problema

De acordo com o SAISP, das 16:10 horas do dia 17 até as 04:20 do dia 18 choveu 78,6 mm no Ribeirão dos Meninos e no Ribeirão dos Couros 75mm. Isso é mais que um terço da média histórica para o mês de março (178mm) e os meteorologistas já avisaram que a tendência é de chuvas acima da média neste mês.

O cenário que se viu na cidade foi de caos absoluto. Alagamentos, congestionamentos, multidões retidas no metrô ou no trabalho. A cidade não está preparada para as chuvas? A resposta não é tão simples assim. Qualquer aluno de Engenharia Civil aprende muito cedo que, para combater as enchentes, é preciso investir em medidas estruturais e não-estruturais.

Certamente o problema das cheias em São Paulo exige investimentos estruturais, como a construção de piscinões, de diques e de reservatórios, além da canalização de córregos e de rios. No entanto, a cidade carece de medidas não-estruturais, que são tão importantes quanto as obras hidráulicas – possuindo um custo menor – mas que dependem da participação da população.

Medidas como a limpeza de galerias das margens dos cursos d´água, de bueiros, de calçadas, de terrenos baldios e, até mesmo, do quintal de cada munícipe são fundamentais e devem ser contínuas. Os cidadãos precisam se conscientizar de que o simples ato de jogar um papel na rua é prejudicial à cidade e pode ajudar a entupir um bueiro.

As cheias da cidade de São Paulo são tão históricas, que até o famoso pintor Benedito Calixto chegou a registrar uma. Os primeiros registros de cheia na cidade datam do século XVIII e a maior inundação da área urbana ocorreu em 1929. Realizando uma retrospectiva, o governo de São Paulo criou, em 1951, o Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE) para gerenciar o uso da água e a geração de energia elétrica no Estado. A partir de 1960, começou a realizar obras visando minimizar o efeito das chuvas.

Na década de 1980, a capacidade da calha do Rio Tietê era de, aproximadamente, 600 m3/s, ou seja, 600 caixas d´água de 1.000 litros por segundo. No entanto, no ano de 1983, ocorreu uma grande cheia que paralisou toda a cidade, chegando a vazão do Rio Tietê a atingir mais de 1.000 m3/s na usina de Edgard de Souza, na região de Santana do Parnaíba.

No final desse mesmo período, foram realizadas obras para o aprofundamento da calha do Rio Tietê e, mesmo assim, ocorreu novamente uma grande cheia que paralisou a cidade de São Paulo na década de 1990. Diante do ocorrido, em 1995 o governo conseguiu um financiamento para uma nova obra de aprofundamento da calha do rio.

Inicialmente, foi realizado o aprofundamento de 16,5 quilômetros da calha do Rio Tietê – numa média de 2,5 metros de rebaixamento – entre o “Cebolão” e o lago da barragem Edgard de Souza, executado parcialmente no final dos anos 80 e retomado após a obtenção do novo financiamento em janeiro de 1998, sendo concluído em dezembro de 2000. O projeto contemplou também as obras de canalização do Rio Cabuçu de Cima, entre a foz do Rio Tietê e a Ponte Três Cruzes, obras que visaram à melhoria hidráulica e a sua conclusão.

Novas obras foram iniciadas em abril de 2002, na qual foram removidos cerca de 6,8 milhões de m³ de solo e de rochas, resultando em um aprofundamento médio de 2,5 metros, que ampliou a largura do canal entre 41 e 46 metros e aumentou a vazão do Rio Tietê de 640 m³/s para 1.060 m³/s, na altura do “Cebolão”.

Outras obras estruturais já realizadas em São Paulo foram os reservatórios para a retenção das ondas de cheia, construídos ao longo de alguns afluentes, que permitem que a capacidade da calha do Rio Tietê possa suportar o grande volume de escoamento superficial da região metropolitana.

Uma forma importante de intervenção não-estrutural é o Sistema de Alerta a Inundações de São Paulo (SAISP), que é composto por um radar meteorológico e por uma rede telemétrica de hidrologia, que monitora e prevê as intensidades das chuvas e os níveis dos cursos d´água na região metropolitana, assim como também o registro da situação dos piscinões.

O SAISP fornece subsídios ao Centro de Gerenciamento de Emergências da cidade de São Paulo, às Defesas Civis do Estado e aos municípios para que sejam realizadas intervenções para a prevenção e para medidas mitigadoras voltadas aos casos de emergência. É preciso salientar que existe hoje uma grande integração para ações desse tipo em todo o Estado de São Paulo.

A conclusão é a de que os órgãos responsáveis possuem um mapeamento das regiões de risco e dos pontos de alagamentos na cidade. Existem pontos estratégicos monitorados 24 horas por dia, para avaliar os níveis de chuva e dos rios. Muitas obras foram realizadas e outras tantas estão para ser feitas. Mas só isso resolve?

Não há como ter dúvidas de que a conscientização e a participação da população é muito importante para evitar o agravamento das cheias. O simples ato de jogar um papel no chão pode liquidar com todo e qualquer investimento realizado, colocando em risco a vida de diversas pessoas. E, não raro, até sofás são vistos boiando no Tietê!

*João Batista Mendes é Doutor em Engenharia Civil pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) e Professor da Universidade Nove de Julho (UNINOVE).

Contatos para a imprensa:
Casa da Notícia Comunicação
Fone: (11) 5536-9086 ou 2503-7611
Soraia Nigro (soraia@casadanoticia.com.br) e Aline Alves (aline@casadanoticia.com.br)
UNINOVE: Markione Santana (markione@uninove.br)

Jornais de 19/03/2009:

Faltam piscinões para evitar grandes enchentes em SP - Leia Mais

Veja impressionante vídeo das chuvas e enchentes em SP - Veja

Para Kassab, não houve falha no combate a enchentes - Leia Mais

São Paulo amanhece debaixo da lama
São Paulo amanheceu submersa. A chuva matou duas pessoas na maior cidade do Brasil. O prejuízo foi enorme. Carros e caminhões estacionados no pátio de montadoras foram danificados, e alimentos que seriam distribuídos por toda a cidade foram inutilizados.

Bom Dia Brasil mostra vídeo da tragédia - clique e veja


CAMPANHA DO ISOSRiosBr:

12 de Dezembro de 2008

CAMPANHA: "DIGA NÃO ÀS ENCHENTES"

Com apoio da CONFEA/CREA

INSTITUTO SOS RIOS DO BRASIL
Divulgando, Promovendo e Valorizando
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