Correio Braziliense - 21/10/08
Das 300 cabeceiras de córregos e rios do DF cadastradas pelo Ibram, apenas 162 são monitoradas. Dessas, só 47 estão intactas e 51 sofrem graves ameaças ambientais, como desmatamento, lixo e esgotoA copa formada pelas folhas da palmeira faz sombra para casas erguidas no Condomínio Sol Nascente, em Ceilândia.
O tronco da árvore, às vezes, chega a sustentar barracos de madeira construídos sobre um solo de vereda, uma região de recarga do lençol freático onde a terra é encharcada e cheia de olhos d’água.
A árvore que serve de pilastra de apoio para as residências é um buriti, espécie típica do cerrado que denuncia a presença de água nos arredores. Para especialistas, basta visualizar um buriti para saber que há nascentes ou córregos por perto. Em Ceilândia, porém, a riqueza natural foi devastada pela ocupação irregular: as nascentes foram aterradas para a construção das casas, onde atualmente vivem cerca de 70 mil pessoas. Por Gizella Rodrigues, do Correio Braziliense, 21/10/2008.
O manancial é um dos 93 com graves problemas ambientais, como publicou ontem o Correio.
A reportagem de hoje mostra que a degradação dos córregos, na maior parte das vezes, começa ainda na nascente, a quilômetros de distância das margens, como ocorre com o Melchior.
Os dados do Ibram mostram que 51 nascentes têm menos de 30% da cobertura vegetal e, por isso, estão gravemente ameaçadas. “Além de estarem desmatadas, elas recebem lixo e até esgoto.
A cobertura vegetal não existe mais por causa da ocupação irregular do solo”, lamenta a bióloga Vandete Inês Maldaner, coordenadora do Programa Adote uma nascente.
É o que acontece na nascente do Córrego Urubu, que também está degradado. A água que forma o manancial brota perto do Varjão. Uma das nascentes fica na Quadra 5 e sofre com a ocupação urbana. Em abril deste ano, técnicos da Sudesa fizeram uma vistoria no local e a nascente estava cheia d’água. Agora, porém, terra, folhas secas, lixo e entulho tomam o lugar da água. “A nascente é intermitente, a vazão diminui mesmo na época da seca. Mas ela está muito aterrada e ameaçada de ser extinta”, explica a engenheira florestal Ester Martins, técnica da Subsecretaria de Defesa do Solo e da Água.
“No meio urbano, a nascente é vista como um impedimento para o crescimento da cidade e é simplesmente ignorada. Já no meio rural, os produtores valorizam a presença da água e as nascentes, de uma forma geral, estão protegidas”, observa a coordenadora do Adote uma nascente.
A legislação ambiental brasileira classifica uma área de 50 metros ao redor das nascentes como Área de Preservação Permanente (APP) e proíbe qualquer construção nesse raio. Mas a lei é ignorada no DF.
Os moradores que construíram na cabeceira nem sequer sabem que ameaçam o meio ambiente. “Tem pouca água assim o ano inteiro. É uma captação que a Caesb tem lá em cima”, diz um senhor que não quis se identificar. Além de desconhecer que ocupa uma APP, o morador ignora os riscos. A casa dele foi erguida nas margens da nascente, onde uma enorme erosão se formou, e fica à beira de um barranco. O muro está torto e ameaça desabar a qualquer momento. Além disso, as casas estão sujeitas a inundações porque o solo tem pouca capacidade de absorver a água da chuva por já ser bastante irrigado.
Agora, o instituto espera receber um recurso de R$ 43 mil, vindo da Fundação de Apoio à Pesquisa do DF (FAP-DF), para colocar em prática um projeto de vazão da água das nascentes.
“Durante as vistorias que fazemos, medimos a qualidade da água e do solo e observamos a cobertura vegetal. Mas queremos ver se a quantidade de água aumentou para saber se as ações estão dando resultado”, afirma Vandete Inês Maldaner, coordenadora do programa.Adotar o ponto onde brota um curso d’água requer mais que boa vontade.
Qualquer pessoa, empresa, associação ou entidade civil pode se candidatar (www.ibram.df.gov.br). Mas os escolhidos precisam arcar com os custos da preservação, como colocar placas e cercas, comprar mudas para reflorestar o local e impedir a invasão dos 50 metros destinados à Área de Preservação Permanente (APP). “A partir do momento em que a pessoa adota, deve estar ciente de que o ônus é dela.
Queremos aumentar as adoções, mas, para isso, precisamos ter voluntários comprometidos”, afirma Vandete. O programa é cadastrado pelo Ministério Público do DF e dos Territórios (MPDFT) para receber dinheiro das medidas alternativas aplicadas a condenados por crimes ambientais.
A ONG Vertente Verde adotou uma nascente no Condomínio Privê do Lago Norte, que corre diretamente para o Lago Paranoá. A área, porém, é visada por grileiros ainda hoje, que pressionam a entidade para ocupar o terreno de APP. “As pessoas compraram os lotes na área de preservação e, agora, querem construir neles”, explica o presidente da ONG, Edson Bernardes.
Parabéns. Iniciativas como essa deveriam ser mais divulgadas. Por que não levar essa proposta de adotar nascentes a empresas? Seria uma forma de levantar recursos para campanhas de preservação e, pelo lado empresarial, uma maneira muito interessante de fazer marketing, melhorando a imagem da empresa.
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