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11 de dezembro de 2009

TODA A SUJEIRA DO RIO PINHEIROS INVADIU AS ÁGUAS DA REPRESA BILLINGS, APÓS BOMBEAMENTO

Represa Billings, na Grande SP e a super população nas suas margens, provocando imensa poluição nas suas águas (clique sobre a foto para ampliá-la)

Água de beber

A represa Billings, maior reservatório da Grande SP, foi tomada pela sujeira do rio Pinheiros após acionamento das bombas devido às chuvas de terça

"É incrível que a cidade de São Paulo jogue esgoto na sua principal fonte de água", diz Carlos Bocuhy, presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental.

LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL

O maior reservatório de água da região metropolitana de São Paulo, a represa Billings, era ontem uma sopa de poluição e detritos. Bem ao lado da barragem da Pedreira, toneladas de embalagens (de sorvete, margarina, biscoito, nescau, fertilizantes, tintas, óleo lubrificante), tênis e chinelos, garrafas PET, isopor, plásticos, madeira - o lixo da cidade apareceu boiando. A represa tinha a aparência apocalíptica do rio Tietê.

Em alguns pontos, a lâmina de restos urbanos chegava a medir dois metros de espessura -até travava o motor de popa dos barcos.
Este foi o resultado do acionamento das bombas que, na última terça-feira, jogaram as águas podres do rio Pinheiros dentro da represa Billings, como forma de reduzir o volume líquido que corria no leito fluvial - e que, por conta da chuvarada daquele dia, inundou pistas da marginal, casas, fábricas e o Ceagesp.

A natureza fez o rio Pinheiros descer em direção ao rio Tietê, do qual é um afluente. Nos dias de emergência, de inundação, o que se faz é inverter o curso do rio, que passa a subir, em vez de descer. Para isso, ele "pega" dois elevadores: as usinas de Traição (que leva o rio cinco metros acima) e a de Pedreira (que eleva as águas mais 25 metros), e é jogado na Billings.

O governo José Serra (PSDB) avisou que pretende comprar mais duas bombas de elevação, que se deverão juntar às quatro já existentes da usina elevatória da Traição. Na prática, mais do rio Pinheiros e de suas águas mortas será levado para a represa - e mais rapidamente.
A Billings é como se fosse uma das caixas-d'água da cidade de São Paulo. Um braço dela, chamado Taquacetuba, é levado para o reservatório da Guarapiranga, e de lá vai para estação de tratamento, onde fica pronta para consumo.

"É incrível que a cidade de São Paulo jogue esgoto na sua principal fonte de água", diz Carlos Bocuhy, presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental. Segundo ele, as águas do rio Pinheiros até poderiam ser lançadas na Billings, como forma de controle de enchentes, "desde que não houvesse esgoto sem qualquer tratamento no leito do rio".

Antonio Bolognesi, diretor de geração da Emae (Empresa Metropolitana de Águas e Energia, ligada ao governo do Estado, que cuida da represa), diz que as garrafas PET não são nem o principal problema -"Este é apenas o problema mais visível", diz, "e boa parte dele é uma produção local, das populações que vivem à beira da Billings". "Terrível mesmo é, por exemplo, a poluição dos sacos de lixo, que, por terem quase a mesma densidade da água, não boiam, mas ficam em suspensão" (é isso o que trava as hélices dos motores de popa).

Também existe a poluição química, por microrganismos e por metais pesados, mais perigosa porque menos visível. A secretária de Saneamento e Energia do Estado, Dilma Pena, dividiu a culpa pela situação da Billings com a população da cidade: "Se o lixo for jogado nas ruas, ele vai acabar nos rios. Isso é uma coisa errada, para não dizer incivilizada".

Ontem, pelo terceiro dia consecutivo, a Emae fazia a reversão do curso do Pinheiros. Segundo Bolognesi, o procedimento durará até que o rio volte à sua profundidade normal.
Bem em frente à barragem da Pedreira, o pescador Julio de Aguiar, 58, há 40 anos vivendo e trabalhando na Billings, tinha dificuldade para conduzir o seu barco. As águas do Pinheiros entram na represa à razão de 300 metros cúbicos por segundo, formando um rio dentro do lago. Bem ao lado do barco passa, veloz, uma ilha flutuante de cerca de 50 metros quadrados (formada por plantas aquáticas), em que uma família de garças brancas pega carona.

A barragem que gerou a represa Billings foi construída com o objetivo de servir de reservatório de água para a geração de energia hidrelétrica, na usina de Henry Borden, que fica em Cubatão. Por 50 anos, a água do Pinheiros, sem qualquer tratamento, foi jogada na represa. A situação, que já era ruim, agravou-se com o adensamento populacional às margens da Billings.

Segundo Aguiar, há 20 anos, a comunidade de pescadores da Billings pegava uma média de 17 toneladas por dia de peixes, a maioria tilápias. "Hoje não saem nem 500 quilos", diz.
O local em que o pescador costumava ancorar seu barco, próximo da avenida do Mar Paulista (esse é o apelido da própria Billings, por causa do tamanho gigante de seu reservatório de 100 km2), ontem não pôde ser usado. Estava tomado pelos detritos. O jeito foi ancorar o barco 500 metros adiante, mais longe, portanto, da barragem da Pedreira.


Colaborou ROGÉRIO PAGNAN , da Reportagem Local - Folha de S. Paulo

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