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8 de setembro de 2010

REDE DE ESGOTOS CHEGARÁ À ÁREA RURAL EM JUNDIAÍ (SP)


Represa do DAE - Jundiai, ao fundo Vila Marlene
Créditos da Imagem : Jornal de Jundiaí no portaljj

Domingo, 29 de agosto de 2010 -

Sabatina

Com as atenções focadas agora no saneamento e no abastecimento da zona rural, presidente da DAE expõe planos para reduzir perdas e ampliar represa

Agência BOM DIA

Wilson Engholm, presidente da empresa municipal de economia mista DAE S/A, gosta de explicar tecnicamente o que acontece no setor de saneamento da cidade. Mas não parece ter ficado arrogante pelo destaque nacional de Jundiaí em seu setor - considerada a número 1 do Brasil de acordo com avaliação feita pelo Instituto Trata Brasil no serviço de coleta e tratamento de esgoto entre as cidades acima de 300 mil habitantes.

Enfrentou o Conselho de Leitores do BOM DIA e o tempo seco da semana que passou com desenvoltura. Disse logo de cara que era professor e, por isso, gostava de falar. Foi o que fez, indo muito além do tempo combinado. Abriu o jogo e pontuou o que é mito e o que é verdade.

Edu - Saneamento, enfim, parece estar na moda...
Wilson - Desde 2003 o Governo Federal volta mais suas atenções. É uma exigência internacional para que o Brasil resolva esse problema crônico. O país assinou tratado prevendo que até 2015 o saneamento deve estar saneado (SIC). As coisas podem não estar acontecendo na velocidade esperada, mas há avanço e é muito dinheiro aportado para conseguir melhorar de posição.

Matias - Só metade dos municípios brasileiros tem saneamento básico...
Wilson - Para a gente aqui em São Paulo essa realidade choca. Precisamos lembrar que o problema não é só no Norte e no Nordeste. Em Belford Roxo (RJ), por exemplo, 100% do esgoto in natura são despejados nos rios. Para onde vai? Para a baía da Guanabara, nosso cartão postal.

Zilda - Movimentos sociais defendem que água e esgoto são direitos de todos. Jundiaí não atende a zona rural...
Wilson - A DAE é destaque nacional por garantir 100% de rede na zona urbana. Isso é questão bem resolvida. Nossos olhos agora estão focados na zona rural.

Cite exemplos...
Wilson - Estamos construindo duas pequenas estações de tratamento de esgoto nos bairros dos Fernandes e do São José. São 10 km de canalização para devolver ao rio Capivari o esgoto tratado, ali é a nascente dessa bacia que vai para Louveira. Depois virá a água, do contrário seria contaminada.

Orestes - A gente ainda fala no DAE e não “a” DAE. Explica esse S/A, é privatizado?
Wilson - Funciona assim desde 2000. Virou economia mista, com 99,99% de ações da prefeitura. O restante foi comprado por cinco conselheiros. Quando muda o governo, o novo titular “compra” pelos mesmos R$ 20 do anterior. Eu já saí e voltei ao conselho, mas não mudou o valor.

Maria Lúcia - É simbólico, então?
Wilson - Não só. Tivemos ganho em agilidade e visão de negócio. São os mesmos funcionários, mas os novos são celetistas. Temos um orçamento muito equilibrado. É por isso que mesmo estando bem avaliada Jundiaí consegue projetos a fundo perdido.

Tânia - Como é isso?
Wilson - Não usamos o mercado financeiro. O uso de água hoje tem cobranças de outorga, a gente mesmo paga. Mas é investido no próprio setor como o Fehidro (Fundo de Recursos Hídricos) da bacia PCJ (rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí) que tem uns R$ 40 milhões.
Então faço 8 km de adutora e são 60% de recursos próprios e 40% de graça. Faço as estações de esgoto e 40% vêm de graça. Funciona bem, mas outras cidades às vezes não têm o equilíbrio fiscal ou capacidade técnica.

Edu - Passou aquela suspeita de alguns anos atrás de que teriam vendido o DAE por R$ 1?
Wilson - Sim. Aquilo era questão política. Jornais da oposição publicaram em espaço minúsculo o estatuto, assim só dava para ver a minha assinatura. Do lado deturpavam tudo. A mudança foi feita na maior lisura, embora eu seja suspeito de dizer, pois fui eu quem a redigiu. Em 10 anos, a DAE não transferiu lucro para acionista nenhum.

Tânia - Por que a Fumas (Fundação Municipal de Ação Social) assumiu as obras de córregos no PAC (Plano de Aceleração do Crescimento, do governo federal) e não a DAE?
Wilson - Primeiro foi porque pleiteou, poderia ter sido outro setor da prefeitura, mas foi uma forma de conseguir essa parceria.

E esse dinheiro é interessante?
Wilson - A oferta é de longo prazo e com juros baixo, mas há muita burocracia.

Orestes - Temos empresas que consomem muita água?
Wilson - Sim. Mas no caso das maiores, como a Coca-Cola e a Ambev, já estão dentro de um Plano Diretor de Abastecimento de Água que já está pensado para 2050. E são compradoras de água bruta, não de água tratada. Neste ponto estamos completamente tranquilos.

Maria - É água da Serra do Japi que vai para a Coca-Cola, já ouvi isso. É essa é uma água mais limpa?
Wilson - Coca e Pepsi são nossos melhores clientes, pois pagam tudo o que consomem de água bruta. A água deles não é a da Serra. Até porque se usassem água da Serra, teriam de misturar outra para equilibrar os nutrientes. Ela não serviria para eles.

Edu - E as águas da Serra do Japi, então?
Maria - Existem outras empresas que usam?
Wilson - Não tem isso. O uso atual é apenas da pequena ETA (Estação de Tratamento de Água), ali no Eloy Chaves. Mas o vetor oeste está crescendo muito, tanto que prevemos em 30 ou 40 anos uma barragem em algum ponto daquela região para seu abastecimento. Não vai mais ter sentido levar água do Anhangabaú para lá.

José Arnaldo - A DAE já possui todas as outorgas?
Wilson - Temos aquelas definidas pelas leis municipais como responsabilidade de mananciais, que são córregos como do Moisés, da
Ermida, do Eloy Chaves, do ribeirão Caxambu... Existem outros, mas a autorização oficial é muito difícil. Na cidade monitoramos os esgotos e por isso a qualidade das águas, mas não é nosso foco. Existem debates neste domingo no PCJ sobre olhar a mancha hídrica do passado, depois dos sustos com as enchentes do rio Atibaia.


Esse cenário está presente?
Wilson - Sim, tanto que vamos colocar 10 bilhões de litros na segunda fase da represa, embora a capacidade seja de 12,5 bilhões de litros. Ficamos com uma margem de segurança de 2,5 bilhões de litros para chuvas fora de padrão.

Guaraci - Como ficam a pesca e os esportes náuticos nessa nova represa?
Wilson - A pesca chegamos a estudar até aquele problema da alga azul, que não era tóxica mas deixava um cheiro ruim. Concluímos que a ração usada para alevinos em pesqueiros da região causava riscos e suspendemos o programa. Mas os esportes náuticos estão indo bem, especialmente os caiaques que hoje possuem até cursos de parceria com entidades sociais como o Peama e a Casa da Fonte. A motor nunca.

Maria - Tivemos uma edição sobre águas do Arte em Ação, evento de artistas no Centro. Havia bons cartazes do DAE. Como está essa área de educação ambiental?
Wilson - É uma parte importante a educação ambiental, onde temos parceria com a Secretaria de Educação e Esportes. Na nova ligação verde que vai haver desde o Jardim Botânico, estamos pensando em uma recepção na chegada ao Parque da Cidade, depois de passar sob a ferrovia. Talvez um espaço ambiental. Queremos e estamos focando nas crianças, que mudam o presente dos pais e garantem seu futuro.

Guaraci - E o futuro, como é visto?
Wilson - As projeções do governo municipal são de que tenhamos 600 mil habitantes em 2050. E projetos novos precisam de 3 ou 4 anos para acontecer, então precisamos sempre olhar para a frente. Quando fizemos a primeira fase da represa, em 1997, o seu horizonte era 2025. Mas estamos em 2010 e já iniciamos a segunda fase.

E haverá adutoras?
Wilson - Da mesma maneira fazemos outras obras, como a adutora nova que vai desde o Centro até o Jardim Tarumã, para abastecer melhor o reservatório daquela região onde a zona leste (Tamoio, Nambi, Colônia) está crescendo muito intensamente. E outras.

Orestes - Quando começou a reversão do rio Atibaia?
Wilson - Desde 1975, com uma segunda adutora instalada em 1995 para reforçar o rio Jundiaí-Mirim em estiagens mais severas. Com a represa vamos reduzir muito a necessidade de uso, mas vamos manter a outorga do DAEE (Departamento de Águas e Energia do Estado), de 1,2 mil litros por minuto.

Tânia - Esse boom imobiliário não assusta?
Wilson - Não, porque nossa principal ETA (Estação de Tratamento de Água) ainda está em 60% de sua capacidade. Como disse, nossa equipe trabalha para prever os problemas futuros.

Matias - Tem impacto no setor de planejamento da cidade?
Wilson - Não diria assim, é uma parceria. Porque é o meio ambiente que produz a água, e a falta de saneamento prejudica o meio ambiente. Precisamos estar próximos.

E as torneiras econômicas, que evitam ar?
Wilson - Isso não existe. As adutoras têm ventosas, o ar não conta no hidrômetro. O que temos são equipamentos antiquados, mas que estamos trocando em um ritmo de todos a cada sete anos.

Edu - Onde mais é preciso modernizar?
Wilson - Nosso alvo agora é as perdas entre a água tratada e a água consumida. Muitas tubulações são de ferro fundido, no meio de ruas hoje movimentadas. Estamos levando para as calçadas e usando agora a pitometria, tipo de estetoscópio que “ouve” falhas na rede. Em 2011 teremos reguladores no sistema. E temos o grande projeto de redução de perdas em 4 grandes zonas em que dividimos a cidade.

Zilda - Como vê a ideia do reuso da água?
Wilson - Temos muito que aprender primeiro. Não podemos ir afoitos. Na indústria é mais fácil. Mas temos proposta de criar cisternas na DAE que vão servir de laboratório. A discussão ainda é embrionária.

Orestes - O que diz de Ruy Chaves?
Wilson - Ruy e (José Pedro Rosell) Baldris são os “culpados” de todo esse nosso desenvolvimento hoje. Fonte: BOM DIA BAURU – AGÊNCIA BOM DIA

JUNDIAÍ ESTÁ ENTRE AS MELHORES DO PAÍS,
EM SANEAMENTO BÁSICO

RANKING DO INTITUTO TRATA BRASIL:

Entre 2003 e 2008, houve um crescimento de 6,9% na coleta de esgoto e

de 11,5% no tratamento nessas cidades. Contudo, diariamente ainda são

despejados 5,9 bilhões de litros de esgoto sem tratamento no meio ambiente.

O volume de investimentos e a redução de perdas de água tratada foram

os principais motivos para que os dez primeiros colocados em 2008 melhorassem

sua posição em relação a 2007. O ranking mostra que, no conjunto dos indicadores

avaliados, estão entre as melhores cidades do País: Jundiaí (SP); Franca (SP),

Niterói (RJ), Uberlândia (MG), Santos (SP), Ribeirão Preto (SP), Maringá (PR),

Sorocaba (SP), seguida de Brasília (DF) e Belo Horizonte (MG). (Trata Brasil)


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