Cientistas produzem código de barras de DNA de 23% das 28 mil espécies de peixes atualmente conhecidas pela ciência. Uso da nova técnica indica, no entanto, que o total pode ser muito maior (Foto: Aquário da Geórgia - Estados Unidos)
Diversidade subestimada
7/12/2009
Por Fábio de Castro
Agência FAPESP
Existem cerca de 28 mil espécies de peixes catalogadas com nomes científicos. Mas, depois de identificar 7 mil dessas espécies com o uso da técnica de DNA barcoding – ou código de barras de DNA –, uma rede internacional de cientistas começa a suspeitar que o número total de peixes conhecidos pode ser muito maior. A aplicação da nova metodologia mostrou que muitos dos nomes científicos podem remeter a espécies distintas.
A afirmação foi feita por Robert Hanner, da Universidade de Guelph, no Canadá, nesta sexta-feira (4/12), durante o último dia do Simpósio Internacional sobre DNA Barcoding do Programa Biota-FAPESP, na sede da Fundação, em São Paulo.
Hanner coordena o projeto Fish-BOL, associado ao Projeto Internacional do Código de Barras da Vida (iBOL, na sigla em inglês), que será lançado em julho de 2010. Ambas as iniciativas são sediadas na Universidade de Guelph.
De acordo com Hanner, o projeto já identificou mais de 7 mil espécies de peixes empregando a nova técnica que utiliza um pequeno trecho do DNA como marcador para caracterizar espécies biológicas. O total das espécies registradas chega a 23% do total de espécies nomeadas pela ciência.
“Existem cerca de 28 mil espécies nomeadas e fizemos até agora o código de barras de DNA de 7 mil delas. Nesse processo, no entanto, estamos revelando novas espécies. Tanto espécies realmente novas, como algumas que eram confundidas com outras pelos métodos taxonômicos tradicionais. Isso nos leva a estimar que pode haver cerca de 40 mil espécies no total, em todo o planeta”, disse à Agência FAPESP.
Segundo Hanner, o objetivo da iniciativa é registrar o código de barras de DNA de todas as espécies conhecidas. “No entanto, vamos ter mais trabalho do que imaginávamos, porque a diversidade parece ser mesmo maior que a mostrada por nossa lista inicial de espécies conhecidas. Esse número está sendo sistematicamente revisado e talvez cheguemos a 32 mil ou 34 mil em breve”, afirmou.
Hanner explicou que o foco inicial do projeto foram as espécies comercialmente mais importantes e aquelas que já estavam presentes em coleções de tecidos de museus. Segundo ele, é difícil prever quando o trabalho de identificação por DNA barcoding será concluído para todas as espécies.
“Temos justamente reunido mais informação sobre o que é mais comum. Portanto, o ritmo de registros declina conforme passamos a identificar as espécies menos comuns. Vamos precisar de cada vez mais esforço, à medida que começarmos a trabalhar em determinadas áreas, particularmente em ambientes de água doce, onde há muitas espécies endêmicas”, explicou.
As espécies marinhas, segundo Hanner, foram registradas prioritariamente, exatamente em virtude de seu valor comercial. “Não trabalhamos exclusivamente com espécies marinhas, mas elas foram priorizadas nessa fase inicial, porque são uma fonte de proteína importante para a maioria das pessoas. Além disso, sabemos que está havendo uma grande onda de pesca ilegal, desregulamentada e não relatada. Isso está provocando um impacto importante no gerenciamento dos estoques pesqueiros”, disse.
Evitar fraudes
Com a identificação das espécies marinhas por código de barras de DNA, Hanner acredita que será possível combater fraudes comerciais com mais eficiência.
“Como a pesca está sob pressão, vemos muita fraude de mercado, com substituição de espécies mais caras por outras mais baratas, por exemplo. A técnica de DNA barcoding, que permite identificação a partir de produtos processados, possibilitará a detecção desses padrões de fraude”, disse.
Segundo Hanner, com os avanços já feitos em relação às espécies marinhas, o projeto entra agora em uma nova fase, com foco em ecossistemas de água doce.
“Está na hora de voltar a atenção para lugares como a Amazônia. No Brasil, já temos muitas espécies identificadas, especialmente em São Paulo, mas falta avançar para o interior do país”, afirmou.
O cientista explicou que o fato de a Amazônia não ter ainda muitas espécies identificadas com a nova técnica reflete a distribuição geográfica do interesse dos pesquisadores brasileiros em DNA barcoding.
Segundo ele, a aplicação da técnica em território paulista está avançada porque no Estado há pesquisadores que começaram a trabalhar cedo com ela, como o ictiologista Cláudio Oliveira, do Laboratório de Biologia e Genética de Peixes do Instituto de Biociências de Botucatu da Universidade Estadual Paulista.
“Oliveira está envolvido com o projeto desde o início, quando foi ao nosso laboratório em Guelph para fazer sequenciamentos. Tenho certeza que logo teremos outros taxonomistas brasileiros trabalhando na Amazônia. Talvez ainda não estejam a par do que estamos fazendo, ou não tenham conseguido os fundos necessários para participar da iniciativa, mas sabemos que é questão de tempo”, indicou.
Hanner contou que uma das ambições dos projetos Fish-BOL é aumentar as interações com a comunidade científica brasileira. “Sob o guarda-chuva do desafio internacional do projeto iBOL, esperamos estimular o Brasil a desenvolver uma rede nacional e investir em uma infraestrutura taxonômica para completar suas bibliotecas de sequenciamento de referência”, disse.
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