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13 de setembro de 2011

AMBIENTALISTA GERMANO WHOEL ANALISA AS INUNDAÇÕES DO VALE DO RIO ITAJAÍ





Deslizamento ocorrido em 2009 nas cabeceiras do rio Itajaí, nas encostas do rio do Couro. Foto: Germano Woehl Junior
A área da bacia hidrográfica do rio Itajaí é de 15.000 km² e abrange 47 municípios catarinenses. Em linha reta, a nascente fica a 160 km de distância de Blumenau, em Papanduva (SC). Toda a água drenada nesta imensa área da bacia hidrográfica passa por Blumenau e Itajaí um pouco antes de ser despejada no Oceano Atlântico. Portanto, devido à localização e a imensa bacia hidrográfica situada em uma região com elevado índice pluviométrico, qualquer chuva forte causa problemas nestas cidades.

"A cada chuva forte ocorre um deslizamento de grandes proporções. Toda a vegetação e detritos vão parar no rio, represando suas águas até encher rapidamente e estourar, formando uma cabeça d’água - com vários metros de altura -, com um poder de destruição semelhante a um tsunami avassalador, que devasta as margens"
São comuns fotos antigas mostrando inundações em Blumenau. No álbum da minha família há várias destas fotos já amareladas, de um período na década de 50, em que meu irmão mais velho morou na cidade para estudar. Não é por acaso que desde sua fundação, em 1852, Blumenau já teve 70 enchentes registradas. Uma a cada 2 anos e 3 meses. Um ano após a fundação, há relatos de que foi inundado o vilarejo formado pelos primeiros colonizadores.

Nos últimos anos, aumentou a pressão para destruir o que resta de mata ciliar preservada, sobretudo nas cabeceiras do rio Itajaí. Isto significa que as enchentes em Blumenau devem se tornar muito piores nos próximos anos.
 


As matas preservadas prestam um serviço ambiental de reter a água das chuvas e liberá-la aos poucos para os rios. Sem as matas, as águas das grandes enxurradas escoam instantaneamente para os rios provocando as enchentes. Com a devastação que está ocorrendo, a situação de quem vive em Blumenau e Itajaí fica a cada dia mais dramática.


Esforços de Preservação




Árvore caída sobre o rio do Couro na RPPN Corredeiras do Rio Itajai, devido a desestabilização do barranco causada pela erosão da cabeça d'água. Foto: Germano Woehl Junior
Diante de tanta destruição, nós decidimos salvar uma área da bacia hidrográfica do rio Itajaí que concentra uma grande quantidade de rios e nascentes, ou seja, estamos salvando concretamente dezenas de quilômetros de matas ciliares e uma riquíssima biodiversidade. Com muito esforço, usando nossas economias, já conseguimos salvar 860 hectares, que foram comprados pedacinho por pedacinho. Deste total, 215 hectares foram comprados pelo Instituto Rã-bugio para Conservação da Biodiversidade com dinheiro de doadores, que se sensibilizaram com a nossa luta. Quase toda a área já foi transformada em Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), condição que preservará essa área do desmatamento para sempre.

Estas poucas matas preservadas que restam e que lutamos para salvar também são castigadas toda a vez que chove muito. Sofrem os efeitos das degradações causadas no entorno, como a ocupação irregular das bordas dos penhascos, as chapadas. A cada chuva forte ocorre um deslizamento de grandes proporções. Toda a vegetação e detritos vão parar no rio, represando suas águas até encher rapidamente e estourar, formando uma cabeça d’água - com vários metros de altura -, com um poder de destruição semelhante a um tsunami avassalador, que devasta as margens, arrancado árvores centenárias e destruindo os barrancos.

Somente no entorno da RPPN Corredeiras do Rio Itajaí, a 140 km de Blumenau, com as chuvas intensas dos últimos anos já ocorreram sete deslizamentos de grandes extensões que represaram o rio do Couro, afluente do rio Itajaí do Norte, que atravessa a RPPN. Veja as imagens. É triste ver o cenário de destruição que a cabeça d’água provoca nas margens.

O futuro de Blumenau e Itajaí vai depender dos resultados de nossos esforços de salvar o que resta das matas que protegem as cabeceiras do rio Itajaí. A minha luta pessoal começou no início dos anos 70, quando era adolescente e tentava impedir o desmatamento das margens do Itajaí denunciando o desrespeito, inutilmente, às autoridades em Brasília.

Mas não desisti. Nos últimos anos, finalmente, começamos a virar o jogo em Itaiópolis e municípios vizinhos, quando as promotorias (Ministério Público) e Poder Judiciário das comarcas destes municípios começaram a exigir o cumprimento das leis ambientais. Só em Itaiópolis (SC), pelo menos 300 infratores foram multados e processados por crime de desmatamento, a maioria na bacia hidrográfica do rio Itajaí. Claro que o trabalho da fiscalização do IBAMA-SC e Polícia Ambiental de Santa Catarina foi também fundamental.

A pressão para destruir o que resta da mata ciliar do rio Itajaí é cada vez mais forte. A área a ser fiscalizada é extensa, o que urge um grande investimento do poder público em infraestrutura de pessoal e de equipamentos para, como Polícia Ambiental, consiga dar uma proteger às matas remanescentes do rio Itajaí. O que podemos garantir por enquanto são os 860 hectares que compramos e já transformamos quase integralmente em RPPN. Fonte: O ECO 


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