APRENDENDO COM A ÁGUA E COM A ANCESTRALIDADE

Água e Ancestralidade tornam-se referências norteadoras para uma Cultura de Paz

08/09/2008 - Mônica Pinto / AmbienteBrasil
Resgatar uma parcela da identidade sócio-cultural na bacia do Prata, solapada pelos colonizadores, foi um dos principais objetivos da III Assembléia Regional Latino-Americana, promovida pela Iniciativa das Religiões Unidas (URI, da sigla em Inglês: United Religions Initiative), uma organização fundada em valores humanos universais, dedicada a promover o diálogo e a ação inter-religiosa e atuante hoje em cerca de 50 países de todos os continentes.

O evento aconteceu de 28 a 31 passados, em Foz do Iguaçu, no Paraná, com o tema “Retorno a Ytu Saingo” que, na língua Guarani, significa “Queda do Pai das Águas”, nome original da catarata principal do Rio Iguaçu, cuja foz deu nome à cidade sede da Assembléia.

A Usina de Itaipu, através de sua Diretoria de Meio Ambiente e como membro do Centro de Saberes e Cuidados Sócio-ambientais da Bacia do Prata, foi patrocinadora e co-organizadora da Assembléia, dando o apoio logístico necessário a sua realização (saiba mais sobre a iniciativa na reportagem EXCLUSIVO: Cinco países se unem pela Educação Ambiental na Bacia do Prata)

A cidade de Foz do Iguaçu foi escolhida pela URI por representar o propósito de congraçamento entre os povos defendido por ela, visto que se situa na chamada tríplice fronteira, no lado brasileiro, vizinha à Ciudad del Este, no Paraguai, e a Puerto Iguazú, na Argentina - para a URI, “uma síntese do diálogo intercultural e inter-religioso, abrangendo 76 grupos étnicos”.

Além disso, as cataratas do Iguaçu, uma atração turística das mais requisitadas mundialmente, são referência do sagrado para as comunidades tradicionais da região, o que facultou ao evento prestar uma dupla reverência: à Água e à Ancestralidade.
O interesse do Centro de Saberes e Cuidados Ambientais deveu-se ao objetivo de constituir um Conselho Indígena da Bacia do Prata, para compor o Conselho Diretivo da organização, que já congrega representantes dos cinco países banhados pelo rio, divididos por comunidades tradicionais, Governos, sociedade civil, Comunicação e Academia.

“Essa participação foi primordial dentro da proposta do Centro de Saberes por dois aspectos importantes: temos muito a aprender com as comunidades tradicionais, principalmente no que diz respeito à sustentabilidade; o outro, é que temos que levar também a elas a importância do tema gestão de recursos hídricos, sobretudo dentro do panorama atual das mudanças climáticas”, disse a AmbienteBrasil Marcelo Alves de Souza, secretário Executivo do Centro de Saberes pelo lado brasileiro. Segundo ele, o Centro quer também, junto com a URI, criar um Círculo de Cooperação que represente a tríplice fronteira, aliando-se aos outros 22 dois já formados no âmbito da Iniciativa das Religiões Unidas na América Latina. Cada Círculo define suas prioridades e atua orientado pela Carta da URI.

Ao redor do mundo, são cerca de 300 - uma rede de solidariedade e ativismo inter-religioso pela paz.Como saldo do evento em Foz do Iguaçu, foi extraída a Carta de Ytu Saingo.
Entre seus compromissos, estão “aprender com a Água e com a Ancestralidade a revisar e transcender as fronteiras pessoais, culturais e geopolíticas que nos têm separado por séculos, como condição de cura de feridas históricas individuais, coletivas e ambientais” e “desenvolver a partilha de saberes e cuidados existentes e criando outros novos, a partir da sabedoria ancestral e da ciência e tecnologia sintonizada à eco-sustentabilidade”.