Sensibilidade profunda
12/12/2008 Agência FAPESP
Descobertas realizadas por um grupo de pesquisadores norte-americanos mostram que a composição química dos oceanos é menos estável e mais facilmente afetada pelas alterações climáticas do que se acreditava.
O trabalho, publicado na edição desta sexta-feira (12/12) da revista Science aponta mudanças drásticas na química oceânica durante um período de mudanças climáticas há 13 milhões de anos. Os autores alertam que a mudança climática atualmente em curso poderia afetar de forma semelhante a composição química dos oceanos, com profundas conseqüências para os ecossistemas marinhos.
"Conforme a quantidade de CO2 aumentar e os padrões climáticos mudarem, a composição química das águas dos rios também sofrerá transformações e isso irá afetar os oceanos", disse um dos autores do trabalho, Ken Caldeira, do Departamento de Ecologia Global da Carnegie Institution, em Washington. "Isso vai mudar a quantidade de cálcio e outros elementos no sal dos oceanos", afirmou.
Além de Caldeira, a equipe de pesquisa, liderada por Elizabeth Griffith, da Universidade de Stanford, incluiu cientistas da Universidade da Califórnia em Santa Cruz, da Universidade de Yale, em New Haven e da Universidade Wesleyan, em Middletown, na Califórnia.
Os cientistas estudaram amostras de núcleos de sedimentos oceânicos extraídos de regiões profundas da bacia do Pacífico. Analisando os isótopos de cálcio nos grãos de bário mineral em diferentes camadas, eles determinaram que, entre 13 e 8 milhões de anos atrás, os níveis de cálcio do oceano mudaram dramaticamente.
A mudança química, segundo o estudo, aconteceu durante o mesmo período em que houve crescimento das camadas de gelo da Antártida. Naquele intervalo de tempo, em virtude do enorme volume de água que ficou retido na massa de gelo, o nível do mar baixou.
"O clima esfriou, as camadas de gelo se expandiram, o nível do mar baixou e houve mudanças na intensidade, tipo e grau da erosão. Isso provocou mudanças na circulação oceânica e na quantidade e composição do material que os rios despejavam no mar . Esse processo teve impacto importante na biologia e na química do oceano", disse Elizabeth.
Segundo os cientistas, o ciclo global de cálcio tem sido muito dinâmico ao longo dos últimos 28 milhões de anos. Como a produção de carbonato de cálcio no oceano e sua deposição no fundo do mar ajuda a controlar a concentração de dióxido de carbono atmosférico, o cálcio está intimamente ligado ao ciclo climático.
Rochas ricas em cálcio, como as pedras calcárias, são os principais armazéns de carbono dos ciclos de carbono da Terra, porque elas são essencialmente constituídas por carbonato de cálcio. "O ciclo de cálcio do oceano está intimamente ligado ao dióxido de carbono atmosférico e aos processos que controlam a acidez da água salgada", disse Caldeira. A acidificação da água do mar já é uma ameaça crescente aos recifes de coral e outros tipos de vida marinha, de acordo com os cientistas.
“O que aprendemos com esse trabalho é que o sistema oceânico é muito mais sensível às alterações climáticas do que pensávamos", afirmou Elizabeth.
"Achávamos que a concentração de cálcio, que é um elemento importante na água do mar, iria mudar lenta e gradualmente ao longo de dezenas de milhões de anos. Mas o que os nossos dados sugerem é que pode haver uma relação mais dinâmica entre o clima e a química do oceano, o que eventualmente pode resultar em uma rápida reorganização biogeoquímica", declarou.
"O trabalho mostra como é dinâmico o sistema clima-oceano e indica que as respostas às mudanças nem sempre são aquilo que esperamos. Precisamos manter isso em mente quando analisarmos o clima futuro e outras mudanças antropogênicas, como a acidificação do oceano e seu impacto sobre os oceanos e sobre os seus recursos", disse.
O artigo A Dynamic Marine Calcium Cycle During the Past 28 Million Years, de Elizabeth Grifith e outros, pode ser lido por assinantes da Science em www.sciencemag.org.
INSTITUTO SOS RIOS DO BRASIL
Divulgando, Promovendo e Valorizando
quem defende as águas brasileiras!
ÁGUA - QUEM USA, CUIDA!
O trabalho, publicado na edição desta sexta-feira (12/12) da revista Science aponta mudanças drásticas na química oceânica durante um período de mudanças climáticas há 13 milhões de anos. Os autores alertam que a mudança climática atualmente em curso poderia afetar de forma semelhante a composição química dos oceanos, com profundas conseqüências para os ecossistemas marinhos.
"Conforme a quantidade de CO2 aumentar e os padrões climáticos mudarem, a composição química das águas dos rios também sofrerá transformações e isso irá afetar os oceanos", disse um dos autores do trabalho, Ken Caldeira, do Departamento de Ecologia Global da Carnegie Institution, em Washington. "Isso vai mudar a quantidade de cálcio e outros elementos no sal dos oceanos", afirmou.
Além de Caldeira, a equipe de pesquisa, liderada por Elizabeth Griffith, da Universidade de Stanford, incluiu cientistas da Universidade da Califórnia em Santa Cruz, da Universidade de Yale, em New Haven e da Universidade Wesleyan, em Middletown, na Califórnia.
Os cientistas estudaram amostras de núcleos de sedimentos oceânicos extraídos de regiões profundas da bacia do Pacífico. Analisando os isótopos de cálcio nos grãos de bário mineral em diferentes camadas, eles determinaram que, entre 13 e 8 milhões de anos atrás, os níveis de cálcio do oceano mudaram dramaticamente.
A mudança química, segundo o estudo, aconteceu durante o mesmo período em que houve crescimento das camadas de gelo da Antártida. Naquele intervalo de tempo, em virtude do enorme volume de água que ficou retido na massa de gelo, o nível do mar baixou.
"O clima esfriou, as camadas de gelo se expandiram, o nível do mar baixou e houve mudanças na intensidade, tipo e grau da erosão. Isso provocou mudanças na circulação oceânica e na quantidade e composição do material que os rios despejavam no mar . Esse processo teve impacto importante na biologia e na química do oceano", disse Elizabeth.
Segundo os cientistas, o ciclo global de cálcio tem sido muito dinâmico ao longo dos últimos 28 milhões de anos. Como a produção de carbonato de cálcio no oceano e sua deposição no fundo do mar ajuda a controlar a concentração de dióxido de carbono atmosférico, o cálcio está intimamente ligado ao ciclo climático.
Rochas ricas em cálcio, como as pedras calcárias, são os principais armazéns de carbono dos ciclos de carbono da Terra, porque elas são essencialmente constituídas por carbonato de cálcio. "O ciclo de cálcio do oceano está intimamente ligado ao dióxido de carbono atmosférico e aos processos que controlam a acidez da água salgada", disse Caldeira. A acidificação da água do mar já é uma ameaça crescente aos recifes de coral e outros tipos de vida marinha, de acordo com os cientistas.
“O que aprendemos com esse trabalho é que o sistema oceânico é muito mais sensível às alterações climáticas do que pensávamos", afirmou Elizabeth.
"Achávamos que a concentração de cálcio, que é um elemento importante na água do mar, iria mudar lenta e gradualmente ao longo de dezenas de milhões de anos. Mas o que os nossos dados sugerem é que pode haver uma relação mais dinâmica entre o clima e a química do oceano, o que eventualmente pode resultar em uma rápida reorganização biogeoquímica", declarou.
"O trabalho mostra como é dinâmico o sistema clima-oceano e indica que as respostas às mudanças nem sempre são aquilo que esperamos. Precisamos manter isso em mente quando analisarmos o clima futuro e outras mudanças antropogênicas, como a acidificação do oceano e seu impacto sobre os oceanos e sobre os seus recursos", disse.
O artigo A Dynamic Marine Calcium Cycle During the Past 28 Million Years, de Elizabeth Grifith e outros, pode ser lido por assinantes da Science em www.sciencemag.org.
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