Em mais uma reportagem especial da série "Rios de São Paulo", nossa equipe foi para a Ásia para mostrar como a capital sul-coreana salvou um córrego e um rio tão poluído quanto o nosso Tietê.
Carlos Tramontina, a editora Cris Ladeira e o cinegrafista Cauê Angeli estiveram na Ásia para mostrar como a capital sul-coreana salvou um córrego e um rio tão poluído quanto o nosso Tietê. Nesta reportagem você vai ver como um córrego sujo e coberto por uma avenida e por um viaduto virou motivo de orgulho.
Conhecer o Cheong Gye em Seul é programa é um programa obrigatório para estrangeiros que chegam ao país. Estudantes são de Singa Pura, uma próspera ilha do sudeste asiático. Eles conhecem bem o que é desenvolvimento econômico e ficaram surpresos com o que viram no córrego.
Uma jovem diz que é muito bonito e que é impressionante como eles conseguiram recuperar a paisagem no meio dos prédios.
Soleiman Dias vive em Seul há 8 anos, fundou a associação Brasil-Coréia e acompanhou as discussões para a transformação do córrego.
“Imagina que tinha uma estrada como qualquer outra, eram quatro faixas pra carros somente. Parecido com o minhocão como nos temos em São Paulo e era uma ideia talvez absurda de alguém querer destruir essa estrada e transformar num córrego. É a revolução do pensamento de aproveitamento de espaço urbano hoje em dia, né?”, diz Soleiman.
Imagens cedidas pela prefeitura de Seul mostram como tudo começou. A idéia foi do então prefeito Lee Myung Back. Em uma só administração ele idealizou a reforma e executou o projeto. Ele ganhou tanta projeção que hoje é o presidente da república.
Entre 2003 e 2005 o minhocão foi destruído, o tampão de 40 anos arrancado e parte do córrego restaurada. O córrego tem pouco mais de 5 quilômetros de extensão.
Chama logo a atenção o fato de que a água tem vida. Ela corre rapidamente, é transparente, translúcida. A gente olha e vê que ela é cristalina, dá logo vontade de colocar a mão.
Nesse momento é impossível porque a água está muito gelada. Todo mundo pode ir de lá pra cá sem nenhuma dificuldade e com segurança. É só tomar um pouquinho de cuidado.
A idéia de diminuir o cinza a favor do verde não agradou todo mundo.
“A população foi contra, alguns que utilizavam essa via, eu mesmo utilizava essa via várias vezes. Inicialmente foi tão revolucionário, a ideia era tão absurda, que muita gente foi contra”, diz Soleiman.
O comércio popular na região do córrego é muito parecido com a nossa 25 de março. Na época das obras, os comerciantes sofreram muito e houve protestos.
O atual assistente do prefeito de Seul para assuntos de infra-estrutura foi quem coordenou o projeto. Ele diz que quando a idéia foi lançada a prefeitura fez mais de mil reuniões com representantes da comunidade para explicar o que seria feito.
O senhor Lee conta que para não prejudicar a circulação das pessoas foi preciso reorganizar as rotas do trânsito, reformar o sistema de ônibus e de metrô e a partir das consultas frequentes eles ganharam o apoio dos donos das lojas.
Os tempos são outros para um vendedor de sapatos. Depois das mudanças, ele vende duas vezes mais, até nos fins de semana, por causa dos turistas, de 80 a 100 pares de sapato.
“A questão cultural acho que é muito importante ser colocada porque é de um desejo do povo de talvez até sofrer por uma causa maior. Hoje como cartão postal, os estudos que são feitos, pra você ter uma ideia, hoje vem grupos do mundo inteiro visitar esse projeto, visitar o córrego. Existem disciplinas em universidades do mundo inteiro que estudam esse projeto revolucionário”, diz Soleiman.
Para as crianças que se divertem hoje brincando no córrego o aprendizado começa cedo e vale para vida toda.
A experiência de Seul vai ser apresentada num seminário nesta terça-feira, na capital, sobre o futuro dos nossos rios. O encontro é promovido pela rede globo, em parceria com a escola politécnica da USP e, na segunda reportagem especial, você vai conhecer o rio Han, o Tietê dos coreanos. Só que ele é limpo e usado como área de lazer.
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