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1 de junho de 2010

SOS RIO SARAPUÍ - DUQUE DE CAXIAS (RJ)


Geneci Socorro Santana, de 38 anos, conhece bem a sede de vingança do Rio Sarapuí. Morando ao lado do rio, ela luta para manter Davi e seus outros três filhos com saúde.


31/5/2010

Rio contamina população ribeirinha com mais de 136 mil habitantes

Publicado por http://extra.globo.com/

Davi, de 2 anos e 6 meses, morador da favela Dique 2, em Duque de Caxias, brincou de carrinho às margens do rio durante toda a manhã. Horas mais tarde, a criança teve febre. Em seguida, diarreia e vômitos. À noite, como acontece rotineiramente, o menino agoniou com falta de ar. A mãe iniciou o soro caseiro e o levou ao posto. Lá, o médico disse que pouco podia fazer. Daria o remédio, o pequeno ficaria bom, mas logo retornaria com o mesmo quadro. Davi é uma das 136 mil vítimas de uma vingança cega, indiscriminada e involuntária. Envenenado pelo despejo de toneladas de esgoto e lixo durante mais de um século, o Rio Sarapuí, hoje moribundo, devolve aos que estão às suas margens, em forma de doenças, o tratamento recebido.


Geneci Socorro Santana, de 38 anos, conhece bem a sede de vingança do Sarapuí. Morando ao lado do rio, ela luta para manter Davi e seus outros três filhos com saúde.


— Vira e mexe, as crianças têm diarreia, feridinhas na pele e frieiras. A água chega por um cano que puxamos. A casa, depois da enchente de dezembro, está caindo e as paredes, mofadas. Davi tem muita falta de ar. Passo as madrugadas acordada com ele. É uma tristeza ver meu filho agoniando — disse Geneci.


Nem sempre foi assim. O Rio Sarapuí e a população ribeirinha já viveram uma história de amor. No século XVII, o rio era uma avenida de riquezas, por onde passava a produção dos engenhos de cana de açúcar para a porto do Rio de Janeiro. Mais tarde, no século XVIII, foi usado como escoadouro para a Europa, com escala no Rio, do ouro que vinha das minas gerais.

Moradores  ribeirinhos na Favela Dique 2, em Duque de Caxias. Foto: Cléber Júnior

O pagamento por anos de serventia foi uma sentença de morte. O envenenamento do rio foi um crime premeditado. O poder público permitiu a ocupação irregular do leito e fez vistas grossas para a instalação de indústrias poluidoras. Cerca de 65% dos domicílios à beira do rio despejam esgoto diretamente nas águas do Sarapuí. Eles são vizinhos de 155 fábricas. O governo do estado garante que controla a atividade poluidora delas. Mas é questionável: na altura de Nilópolis, uma fábrica de gesso despeja material nas margens do rio.


— Em contato com o esgoto, o sulfato de cálcio (do gesso) se transforma em gás sulfídrico, que libera o cheiro de ovo podre que se sente às margens do rio e causa intoxicação — alerta o engenheiro químico Gandhi Giordano, professor da Uerj.


O grau de envenenamento, acumulado em anos de lançamento de esgoto e lixo, está retratado no resultado de análises da água feitas em cinco pontos diferentes do Sarapuí pelo Laboratório de Engenharia Sanitária da Uerj, a pedido do EXTRA. Em alguns de seus trechos, o rio apresenta cerca de 160 milhões de coliformes totais (bactérias oriundas do intestino) e 54 milhões de E.coli (bacilo que vive no intestino e que causa doenças) por 100 ml de água. O que foi um caminho de ouro não passa hoje de uma vala de esgoto. E quem sofre na pele a revanche do rio são as pessoas que moram naquelas margens por necessidade, que miram seus canos de esgoto para o leito do rio por falta de opção.


Contra essa vingança, Geneci tem poucas armas. Ela ferve a água que traz em galões para as crianças beberem. Em dias de chuva, joga papelão e carpetes velhos no chão para tentar secar as poças e a lama. O ar pesado dentro da casa sem janelas é quase irrespirável.

Moradores  ribeirinhos da Favela Dique 2, em Duque de Caxias. Foto: Cléber Júnior

Vizinha de Geneci, Lucitânea Custódio, de 24 anos, também vive às voltas com a saúde
de seus dois filhos. As casas das duas famílias têm o Sarapuí à frente e uma vala atrás. E, assim como nos quase 36 quilômetros de extensão do rio, a água chega às torneiras de Geneci e Lucitânea por canos furados, sobre a lama.


— Isso não é rio. É um valão — disse Lucitânea, com tom de ressentimento. — Nasci e cresci aqui. E quando tem ressaca no mar ou chove forte, essa água invade o meu quintal. Em dezembro, inundou minha casa.


Ela trabalha na rampa de Gramacho, catando lixo. Mas isso, quando o Sarapuí deixa:

— As crianças têm muita febre, vômito, diarreia. Minha filha está doente. Vou levá-la ao posto e não fui trabalhar. Se não trabalho, não trago comida. Minha luta é diária para viver

Fonte: Site Tratamento de Água

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