Excluindo-se a faixa mais alta de renda (que não tem o que melhorar), proporção de famílias sem esgoto cai menos no setor mais carente
Mais pobres foram os que menos tiveram melhoria no acesso ao saneamento
De 2004 a 2007, a proporção de brasileiros sem acesso a nenhum tipo de esgotamento diminuiu 22,5%, de acordo com a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios). Essa redução, no entanto, não foi uniforme.
As casas mais pobres (com renda domiciliar abaixo de um salário mínimo) foram as que menos tiveram melhoria no acesso ao saneamento, excluindo-se a faixa de renda mais rica (que não tinha margem para melhorar).
Os domicílios com renda de menos de um salário mínimo são os que mais concentram famílias sem esgotamento (40% do total). Mesmo assim, nesse estrato, a diminuição na proporção de pessoas que viviam em casas sem qualquer tipo de coleta de esgoto (nem rede de saneamento, nem fossas, nem valas) entre 2004 e 2007 foi de 18,9%, muito menor do que em outras faixas de renda, como a de um a dois salários mínimos (redução de 30,5%) ou a de dois a três salários (35,2%).
A melhoria do mais pobres só não foi menor do que a entre as famílias que recebem mais de dez salários mínimos – nestas, entretanto, não havia o que melhorar, já que praticamente não há pessoas sem algum tipo de coleta.
“Há a dificuldade de levar o saneamento para a renda mais baixa, porque essa população se concentra em áreas rurais afastadas e nas periferias urbanas”, diz Maria da Piedade Morais, pesquisadora do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). Ela acredita que os números brasileiros sejam positivos como um todo, já que o número de pessoas sem esgoto diminuiu em todas as faixas, mas entende que o investimento público não tem conseguido penetrar nas áreas de baixíssima renda.
Áreas rurais e favelas
Para Piedade, a evolução brasileira vai depender de os programas de saneamento rural serem encorpados. “Para áreas isoladas, têm importância ações mais específicas. Você não pode imaginar que vai levar rede de esgoto para todo o território, porque numa Amazônia, o espaço é rarefeito”, argumenta. “Esgotamento é uma coisa típica de áreas densamente povoadas”.
Na zona urbana, em todas as faixas de renda há mais de 90% de pessoas vivendo em casas com esgotamento. Mesmo assim, são 2,5 milhões de pessoas sem saneamento na zona urbana, dos quais 979 mil recebem menos que um salário mínimo. Já a zona rural concentra 6,9 milhões de pessoas sem esgotamento (22% das pessoas dessas regiões), das quais 2,8 milhões recebem menos de um salário mínimo.
Apesar disso, o técnico do IBGE, William Kratochwilli, acredita que as periferias urbanas concentrem boa parte da falta de acesso a esgoto. “Se pensarmos que boa parte das favelas não tem esgotamento, só na Rocinha, no Rio de Janeiro, já seriam um milhão de pessoas” estima.
* Matéria de DAYANNE SOUSA, da PrimaPagina, PNUD Brasil
[EcoDebate, 08/04/2009]
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