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5 de setembro de 2010

TRANSPOSIÇÃO NA CHINA LIGARÁ SUL AO NORTE PARA EVITAR AVANÇO DA DESERTIFICAÇÃO E FALTA D' ÁGUA


Megaprojeto chinês causa êxodo de 330 mil

Transposição de dois canais que ligarão o sul ao norte da China força retirada maciça de camponeses


05 de setembro de 2010
Jornal O Estado de S. Paulo

Megaprojeto: Sua missão é matar a sede do árido norte da China, onde vive quase metade da população de 1,3 bilhão de pessoas, que enfrentam o avanço da desertificação e o esgotamento das fontes hídricas naturais.

As evidências de que uma migração em massa está em curso no centro da China aparecem logo no começo da autoestrada que liga a cidade de Nanyang ao oeste da Província de Henan. Na outra pista, uma fila interminável de caminhões passa na direção contrária, carregando mudanças de alguns dos 330 mil camponeses que terão de deixar a terra onde seus ancestrais viveram por séculos para dar lugar à represa que será o ponto de partida de um dos tramos do maior projeto de transposição de águas já realizado no mundo.

Reuters
Reuters

Maior, mais complexa e mais polêmica das megaobras chinesas, a transposição será realizada por dois canais que ligarão o sul ao norte da China, com uma extensão total de 2.430 km, pouco mais que a distância entre o Rio de Janeiro e o Recife. Outro trecho de 450 km está previsto para o oeste do país, mas sua construção ainda não teve início e está imersa em controvérsia.

Se os três trechos forem construídos como planejado, o projeto terá um custo de US$ 62 bilhões, mais que o dobro do que foi gasto na Hidrelétrica de Três Gargantas, a maior do mundo. Sua missão é matar a sede do árido norte da China, onde vive quase metade da população de 1,3 bilhão de pessoas, que enfrentam o avanço da desertificação e o esgotamento das fontes hídricas naturais.

O risco de falta de água em Pequim e nas províncias vizinhas tem potencial explosivo e é visto pelo governo como uma ameaça à estabilidade social, já que pode atingir milhões de camponeses, prejudicar o abastecimento de grandes cidades e afetar a produção industrial e agrícola na região, com impacto devastador sobre o crescimento econômico.

A transposição é uma tentativa de amenizar o desequilíbrio entre a oferta de recursos hídricos e a demanda por eles. O sul da China concentra 80% das fontes de água doce do país, mas tem apenas 35% da terra agricultável. Com só 20% dos recursos hídricos, o norte responde por 65% da produção agrícola, graças ao uso intensivo da irrigação.

Para que a água chegue ao norte, 330 mil camponeses de Henan e de Hubei serão obrigados a deixar suas casas. As vilas rurais onde vivem serão inundadas pela ampliação da represa Danjiangkou, que vai cobrir uma área de 370 km² de terra nas duas províncias.

A represa será o ponto de partida da Rota Central do projeto de transposição, que chegará a Pequim e terá 1.270 km de extensão. Com 1.156 km, a Rota Leste servirá o município de Tianjin e as províncias de Jiangsu, Anhui, Shandong e Hebei. Somados, os dois trechos equivalem a 3,4 vezes os 720 km previstos no projeto de transposição do Rio São Francisco, no nordeste do Brasil.

Iniciadas em 2002, as obras deveriam ser concluídas neste ano, mas o prazo foi estendido para 2014 por causa de problemas que vão da poluição a dúvidas sobre o impacto ambiental do projeto.

Mesmo assim, o governo iniciou o processo de transferência dos camponeses a outras regiões, no maior reassentamento do país desde a construção de Três Gargantas, quando 1,2 milhão de chineses tiveram de se mudar.

A diferença é que agora o processo terá de estar concluído em dois anos, enquanto o da hidrelétrica ocorreu em um período de 17 anos.

"Esse lugar logo vai ser inundado. Queiramos ou não, temos de sair", disse o camponês Wang, de 30 anos, cujos ancestrais vivem na região desde a dinastia Ming (1368-1644). O aviso de que sua mudança ocorreria ontem foi dado com apenas duas semanas de antecedência.

A discussão sobre o projeto de transposição existe desde os anos 50, quando Mao Tsé-tung (1893-1976) disse que o sul deveria "emprestar" um pouco de água para o norte. Estudos detalhados foram feitos a partir de 1994 e, em 2002, a cúpula do Partido Comunista deu sinal verde para o início das obras.

No ano seguinte, os camponeses das vilas que serão inundadas foram proibidos pelo governo de construir novas moradias, para evitar o aumento no valor das indenizações. Sabendo que teriam de se mudar, eles também não tinham estímulo para fazer reformas e alguns acabaram demolindo suas casas para evitar que elas desmoronassem.

O governo não paga indenização em dinheiro a nenhum dos camponeses e decide o local para o qual eles serão transferidos. Em tese, os recursos que eles teriam de receber são usados na construção das novas casas - sobre a qual eles não opinam -, na compra de terras na região do reassentamento e no pagamento do transporte de seus pertences até o local. Muitas vilas já estão desertas e placas exaltam a população a sacrificar seu interesse em favor do país. O ESTADÃO

MAIS:

Desperdício pode levar país a níveis críticos de escassez

A China tem 20% da população mundial, mas apenas 7% da água do planeta, cuja oferta é reduzida ainda mais pelo desperdício e a poluição, que afeta cerca de 70% dos rios e lagos do país. Para o Banco Mundial, a China pode viver em breve uma severa crise de escassez de água. Com a redução da oferta na superfície, o norte da China começou a utilizar de maneira intensiva as fontes subterrâneas. Em 2005, elas respondiam por 36,3% do consumo da região e estavam se reduzindo rapidamente. No ritmo atual, esses reservatórios podem estar secos dentro de 30 anos, sustentam alguns cientistas.

A notícia é do jornal O Estado de S. Paulo, 05-09-2010.

Um estudo do Banco Mundial observa que a China sempre tentou resolver o problema da escassez de água com mecanismos para aumentar sua oferta e não por meio da elevação da eficiência na utilização do produto.

Segundo a instituição, 65% do consumo de água na China é destinado à irrigação e grande parte dela é desperdiçada. "Só cerca de 45% da água destinada à agricultura é efetivamente utilizada pelos camponeses em suas plantações", afirma o estudo.



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