Boletim de Ações do Diálogo Florestal:
Plantação de eucalipto da FIBRIA promove matança de Lagoa em Mucuri
Diz uma velha máxima que: “O que os olhos não vêem o coração não sente”. Por essa razão que uma das mais belas lagoas do município litorâneo de Mucuri tende a sumir totalmente dentro de no máximo um ano em razão da matança que está sendo promovida contra sua bacia. As matas em sua volta estão sendo destruídas para darem lugar a uma extensa plantação de eucalipto. Tudo financiado pela empresa Fibria Celulose S/A., (antiga Aracruz Celulose), que há mais de duas décadas vem patrocinando a destruição do nosso ecossistema e contribuindo para a destruição dos nossos brejais.
Trata-se de um agressivo plantio de eucalipto pertencente à empresa Fibria Celulose S/A., que mais uma vez não respeitou os limites ambientais e está matando diretamente uma das mais belas lagoas existentes no município de Mucuri. A Lagoa do Espelho, de 9,27 hectares, situada a 800 metros da costa da Praia do Domingo, no litoral sul do município de Mucuri, está secando e o seu espaço está virando lajedo por causa da aproximação do eucalipto. E mesmo levando em consideração que a região já vem registrando seqüentes etapas de chuvas, desde o dia 13 de fevereiro deste ano, a vista da lagoa é mesmo de falecimento em meio à monocultura.
Os moradores da região contaram à reportagem do Teixeira News, que este é o terceiro cultivo de eucalipto na área e cada novo plantio a empresa de celulose aproxima a floresta sugadora para dentro da Lagoa. A agressividade é tanta, que a vegetação que margeava a Lagoa, foi destruída pelos plantios de eucalipto e o seu espaço natural que antes era distinguido pelas águas do lago é hoje cenário de um deserto rachado e marcado pela agressividade e pelo poder do capitalismo da celulose. Ao invés de no mínimo ter aberto um corredor ecológico até o lago e procurado preservar o local como forma de contrapartida em favorecimento ao meio ambiente.
A forma que as empresas de celulose conseguem para passar por cima de tudo e de todos na região extremo sul chega a ser impressionante e o fato é demonstrado na ação proposital de se plantar uma cultura madeireira nociva ao solo e ao meio ambiente em geral, dentro do leito de uma lagoa que antes servia de visitação e hoje ficou ilhada por florestas de eucaliptos. Mesmo resistindo às agressões impostas, o lago some devagar, deixando para trás uma paisagem que as futuras gerações não encontrarão mais, numa época que só se discute a salvação do planeta pelas boas ações empregadas ao meio ambiente.
Crime ambiental igual a esse, só o cometido pela subestação da empresa Suzano Papel e Celulose S/A., onde os tanques da ETE dão vazão aos resíduos procedentes da indústria para dentro do Rio Mucuri. Até anos atrás, os canos despejavam o líquido a céu aberto no rio, e causavam uma espuma química que não se desfazia facilmente e chamava a atenção sobre as águas de rio abaixo e principalmente dos ambientalistas. Até que há pouco tempo, a empresa instalou as bocas dos canos no fundo do rio, de onde o líquido já sobe dissolvendo a sua espuma grossa na água e causando o broto de uma mancha extremamente escura.
No local é possível ver mesmo de longe, uma faixa completamente densa jorrada dos canos no fundo do rio, que toma conta das águas por meio de uma faixa que se ver claramente a diferença do líquido na cor de carvão que vem da Suzano, com a da água do rio, cuja faixa negra vai se espalhando ao longo do leito conforme vai conseguindo extensão sobre as águas. Além dos canos que jorram os resíduos na cor de óleo diesel dentro do rio, o cheiro forte no local é insuportável e nem permite insetos e pássaros voar pela localidade e se observa também o lado do rio em que o resíduo é despejado, a encosta virou barranco, sendo que do outro lado que não é impactado com a contaminação química, a vegetação ambiental mantém-se natural.
“A sociedade não imagina o que as comunidades ribeirinhas que ladeiam os povoados de Nova Brasília e Cruzelândia estão sofrendo com a morte do Rio Mucuri por causa da contaminação do seu leito diante do veneno despejado 24 horas por dia pela Suzano. São impactos de todos os níveis. E como estaria hoje a foz do rio na plataforma continental de Mucuri, os arrecifes de corais e seus cardumes naturais? Toda a bacia hidrográfica e sua bacia de drenagem sofrem com este impacto. Cujas correntes marítimas são direcionadas também para toda costa das baleias, especialmente o Arquipélago de Abrolhos com centenas de recifes de corais que alimentam os cardumes, quando o efeito dominó é natural, refletindo o impacto na qualidade do solo, da água, do ar, da fauna e flora, especialmente na sociedade que sobrevive destes recursos naturais, mas que está sendo expulsa do campo, que sem recursos tecnológicos, seus filhos são obrigados a roubar e as meninas a se prostituírem nas cidades”, pontuou o perito ambiental Fábio Pontes.
E acrescentou que empresas como a Suzano e a Fibria que matam rios e lagos com suas ações ilícitas em desfavor ao meio ambiente, precisariam no mínimo manter um serviço de alta qualidade de fiscalização, monitoramento, análises de laboratório e estudos especiais diariamente com equipes multidisciplinares para estudar os possíveis impactos causados, principalmente se tratando de uma empresa do cultivo da silvicultura e monocultura do eucalipto que tem uma responsabilidade ambiental ainda maior, todavia, elas precisam de suas certificações para continuar atuando no mercado.
Diante dos impactos sofridos que a biodiversidade ambiental da região tem sofrido, especialmente com a descarga química da Suzano Papel e Celulose sobre o rio Mucuri, além da devastação ambiental que tem causado o assoreamento na vazante do rio e a tamanha desagregação social que tem mudado a realidade populacional e aumentada à criminalidade nas pequenas e medias comunidades da região de Mucuri. O que mais se lamenta é a tamanha confiança que as empresas de celulose têm pelo poder do dinheiro que possuem, onde não respeitam justiça, ministério público, os poderes políticos constituídos e desconsideram os organismos de meio ambiente, num município que perde solo e recursos, ficando cada dia mais pobre administrativamente para oferecer bilhões de lucros às empresas de celulose.
A Suzano Papel e Celulose S/A., por exemplo, só paga a metade do que deveria pagar de ISS para os cofres de Mucuri. Em um município onde a Suzano lucra bilhões em cima do seu solo e ela faz questão de ignorar sua gente, as raízes do seu povo, os poderes constituídos, as comunidades originárias e afras descendentes e, mortifica diariamente o rio Mucuri despejando enxurrada de produtos químicos no seu leito, matando espécies raras como peixes tipo tilápia, curimatã, manjuba, canguá e robalo. E se acha no direito privar a sociedade de freqüentar determinadas áreas públicas, como a empresa faz com a Praia Cacimba do Padre, no litoral sul do município de Mucuri, onde cercou toda a área e impede com homens armados que alguém entre para visitar o local, numa praia que tem um grande significado pelo seu valor de sítio histórico, demarcada por um extenso conjunto arqueológico, local que foi abrigo natural dos jesuítas no século XVIII.
O Teixeira News tem conversado com pessoas que moram debaixo da ponte do Rio Mucuri na Rodovia BR-101, pouco abaixo da descarga do esgoto químico da Suzano Papel e Celulose, onde no local eles pescam peixes em estágio de agonização e aparecendo até cascudos e bagres africanos mortos apresentando verrugas avermelhadas em toda a sua pele. Os peixes recolhidos não apresentam sinais de descamação e nem sinais de malhamento por pesca em suas estruturas de formação e quando recolhemos alguns dos peixes, entre eles, os próprios cascudos e bagres africanos, uns dos vertebrados mais resistentes da água doce, constatamos que realmente estavam cheios das verrugas avermelhadas.
Alguns peixes recolhidos por nossa equipe foram encaminhados para um laboratório especializado em São Paulo, com ajuda do biólogo e perito judicial Antônio Carlos Martins Filho, onde os exames concluíram e detectaram a origem das infecções oncogénicas em que os peixes estão sendo mortos por um material corrosivo, tipo dióxido de cloro com solda cáustica, que são justamente os produtos químicos usados no branqueamento do papel, procedente da celulose. O produto consegue eliminar até mesmo os abutres, que ao comerem os peixes contaminados, também morrem.
O processo de degradação ambiental em Mucuri demonstra o desequilíbrio difícil de ser revertido, mas existem diferentes estratégias de em primeiro lugar, haver o entendimento do fenômeno e conseqüentemente após interpretação, conscientização e participação comprometida com a causa da população envolvida, pescadores, populações tradicionais, afro descendentes e o poder público focados em buscar uma solução sustentável, onde a iniciativa privada, indústrias, a população urbana e rural se envolvam e se comprometam com as possíveis soluções, com as diferentes situações, onde o homem comum, o “mucuriense”, se envolva e resgate a alegria e a dignidade perdida ao longo do tempo.
“Além de tudo, nesta região onde o eucalipto tomou conta do solo e expulsou o homem do campo, não existem mais fazendas para oferecer empregos para os habitantes que restaram encurralados pelos cinturões verdes das empresas de eucalipto. Os pequenos proprietários que insistiram ou insistem em ficar em suas pequenas propriedades rurais, pagam um preço muito alto, como foi o caso do produtor rural Osvaldo Pereira Bezerra, “Osvaldinho”, 53 anos, que no dia 17 de março passado, foi espancado e teve o braço esquerdo quebrado a pauladas e ainda foi submetido à dura missão de presenciar o seu filho Henrique de Souza Pereira, o “Hique”, 24 anos, ser assassinado com um tiro na cabeça por prepostos da Fibria Celulose S/A., nas proximidades da sua casa na Praia dos Coqueiros no litoral sul do município de Mucuri”, informa a vereadora Justina Souza Cruz “Tina” (PMDB).
E adiciona a parlamentar, que tantos outros pequenos produtores rurais como estas vítimas, são diariamente na região coagidos pelos vigilantes das empresas de celulose, que os acusam de roubo de madeira, invadem suas residências objetivando amedrontá-los e causam terror de todas as espécies forçando estas pessoas que na maioria sem estudo e sem esclarecimentos dos seus direitos, a se verem amedrontadas e a venderem suas terras a preço de banana ou abandoná-las.
Ou seja, às empresas de eucalipto fazem ao inverso do que deveriam promover que seria desenvolver programas sociais, qualificar estes trabalhadores e construir escolas para os filhos destes produtores, mas a ação dos patrões da celulose tem sido encurralá-los e forçar estas próprias pessoas a furtar suas madeiras para fabricar carvão, única saída de sobrevivência em meio toda aquela extensa mata de eucalipto, longe de tudo e de todos. Ou seja, as ocorrências de furtos de madeiras registradas na região pelas próprias empresas de celulose, é uma questão puramente social, onde as próprias empresas criaram ilhas de pobrezas em meio ao seu mar de riqueza.
Fonte: Jornal Consciência Ambiental
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