Por Antonio Martins
A guerra vem de anos. Em 1986, após séculos de caça incessante, a Comissão Internacional da Baleia (IWC, em inglês) adotou uma moratória internacional das atividades baleeiras. Reagia à ameaça de extinção iminente de diversas espécies, e a uma opinião pública cada vez mais perturbada. Mas a resolução, negociada com enorme dificuldade, manteve abertas duas brechas. A pesca é permitida aos inhuits (ou esquimós) e para fins científicos. Três países interpretaram a seu gosto esta segunda cláusula. Noruega, Islândia e especialmente Japão mataram desde então, segundo cálculos do Sea Shepherd, 25 mil baleias. Mil cetáceos de várias toneladas sacrificados por ano para pesquisa? Ah, sim, admitem as autoridades nipônicas — os animais e suas partes não usados em investigações são destinados para consumo humano…
Fundado em 1977 por Paul Watson (o homem de cabelos brancos, na foto), um canadense de 60 anos apaixonado pelo mar e de temperamento polêmico, o Sea Shepherd adota, contra tal cinismo, o que chama de “ação direta criativa”. Jamais pratica violência contra seres humanos. Mas inferniza a vida dos baleeiros. Para evitar a caça, interpõe-se entre eles e seus alvos: as baleias. Atira, contra os barcos, bombas de ácido bútrico — que não fere, mas “cheira muito, muito mal”…
Às vezes, vai mais longe. Atira, contra a hélice dos navios de caça, cordas tramadas para inutilizá-las. O site da organização orgulha-se de outros feitos: “abalroamento e desabilitação do notório baleeiro-pirata Sierra; fechamento da frota baleeira espanhola; afundamento dos navios baleeiros noruegueses Nybraena e Senet; afundamento de metade da frota islandesa… Na cabine de uma das embarcações, sob a palavra sunk (afundados), a proeza assume forma gráfica.
Guerrilheiros (premiados) “em nome da ONU”: Também na internet, o Sea Shepherd (ver também o site de seu ramo basileiro) alinha argumentos morais e jurídicos em favor desta postura. “A IWC não tem condições de impor a moratória. A Sea Shepherd é a única organização que tem por missão impor as leis internacionais de conservação em alto mar (…) Nossas ações são guidadas pela Carta das Nações Unidas para a Natureza. As seções 21 a 24 conferem autoridade aos indivíduos para agir em seu nome e assegurar o cumprimento das leis internacionais de conservação”.
Contra a atividade baleeira japonesa, o Sea Shepherd definiu uma estratégia. Há anos, ele procura dificultar ao máximo as caçadas, a ponto de torná-las inviáveis economicamente. Tem dado certo. Temporada após temporada, a frota pesqueira regressa ao Japão com carregamentos de carne muito inferiores aos previstos. Como a caça é feita em águas australianas, em santuário criado no Oceano Glacial Antártico para a reprodução das baleias, criam-se, além dos econômicos, constrangimentos políticos e ambientais graves.
Este ano, o Japão respondeu com mão pesada. Três navios da Marinha acompanharam os baleeiros. O Sea Shepherd localizou-os em meados de janeiro. Paul Watson comemora: desde 5 de fevereiro, graças à ação do grupo, nenhuma baleia foi morta. Mas houve retalizações. Em 6 de fevereiro, o barco nipônico Shoan Maru 2 abalroou o Ady Gil, que fazia parte da esquadra ambientalista e era pilotado pelo neozelandês Peter Bethune, recordista internacional em velocidade nos mares. Partiu-o ao meio. Os seis membros da embarcação escaparam por pouco.
Bethune permaneceu na missão. Em 15 de fevereiro, lançou-se a outra manobra ousada. Transportado num jet-sky, emparelhou com o Shoan Maru 2 e saltou em seu convés. Afirmou que pretendia levá-lo a portos australianos, para apreensão per caça ilegal. Foi, evidentemente, detido. Está sendo conduzido ao Japão, onde, afirma-se, poderá ser processado por “acusações não declaradas”. A frota do Sea Shepherd não lamentou: retirado de sua atividade normal, para conduzir o “prisioneiro”, o Shoan Maru 2 era mais um desfalque na já combalida esquadra da morte. O dano político foi ainda maior. Além da Austrália, também a Nova Zelândia anunciou através de seu chanceler, em 22 de fevereiro, disposição de processar o Japão contra a pesca de baleias.
Por trás das escaramuças há um cenário de devastação. Segundo a FAO, agência da ONU para alimentação e agricultura, a pesca marítima quintuplicou, em meio século, passando de 19 milhões de toneladas ao ano, em 1950, para 93 milhões, na virada do século.Um estudo científico encomendado pelo Fundo Mundial para a Vida Selvagem (WWF, em inglês), estima que 25% da população dos oceanos desapareceu, entre 1970 e 2003. Entre as mais atingidas, estão espécies inteligentes e indefesas — baleias, golfinhos, focas — cuja matança, além de chocante, é provocada por motivos fúteis. Como não ser simpático, diante desde quadro, ao radicalismo do Sea Shepherd em favor da vida?
Fonte: Antonio Martins / Blog Outras palavras ./PORTAL DO MEIO AMBIENTE - VILMAR BERNA
ÁGUA - QUEM USA, CUIDA!
Concertesa...temos que apoiar as ações da Sea Shepherd...
ResponderExcluirEntrei para essa Organização justamente pela postura radical e invasiva.!
Só assim protegeremos a vida marinha....