A poluição dos corpos d´água é encontrada em todas regiões do País. No Nordeste a situação é mais crítica devido à baixa pluviosidade e à evapotranspiração
FOTO: MIGUEL PORTELA
A consequência dessa situação é a poluição crescente dos recursos hídricos, reduzindo a oferta de água tratada. No planeta, 2,6 bilhões de pessoas não são beneficiadas com saneamento, o resultado é a morte de 5 milhões de pessoas, por ano, devido a doenças ocasionadas pela má qualidade da água.
As crianças são as mais afetadas com essa situação. No mundo 4.200 morrem diariamente devido a falta de saneamento, cerca de 3 por minuto. Já na América Latina, são 100 mortes diárias, ou seja, 36 mil mortes por ano. A falta de esgotamento traz hepatite A, diarreia, dengue, cólera, esquistossomose e outras enfermidades. Em média, na última década, ocorreram 700 mil internações, por ano, no Brasil, decorrentes de doenças relacionadas à falta ou inadequação de saneamento.
No Brasil verifica-se em todas regiões o comprometimento da qualidade das águas dos mananciais, mas a universalização do saneamento, que resolveria essa situação, pelo andar da carruagem, só vai ser alcançada dentro de 66 anos.
É que para levar o serviço a todos brasileiros seriam necessários investimentos de R$ 260 bilhões, mas como o governo só investe, em média, R$ 4 bilhões, por ano, levaria mais de seis décadas para chegar ao objetivo proposto.
Atualmente, o lançamento de esgotos domésticos é o principal fator de degradação dos corpos d´água no Brasil. Estima-se que 48 % dos domicílios brasileiros possuem coleta de esgotos, sendo que 21 % se utilizam de fossas sépticas.
Considerando o total de esgoto coletado, apenas 20% recebe algum tratamento, sendo o restante lançado diretamente nos corpos d´água. Outro problema é a perdas de água, que no Brasil chegam a 45%.
De acordo com a Agência Nacional de Águas (ANA) as principais bacias do País que apresentam problemas de poluição encontram-se em regiões metropolitanas (São Paulo, Curitiba, Porto Alegre, Belo Horizonte, Vitória, Recife, Salvador, Fortaleza, Belém, Manaus).
Algumas bacias encontram-se impactadas pelos esgotos de cidades de grande e médio porte (Campinas-SP, Juiz de Fora-MG, Cascavel-PR, Mogi-Mirim, São José do Rio Preto-SP, Presidente Prudente-SP, Montes Claros-MG, João Pessoa-PB)
Em algumas bacias são observados corpos d´água com índice de qualidade de água aceitável ou ruim devido a condições naturais, como acontece nos rios do Pantanal em que, nos períodos de cheias, ocorre um processo natural de deterioração da qualidade das águas devido à acumulação de restos vegetais e sedimentos que criam alta demanda por oxigênio.
Nesse período as águas tendem a apresentar baixo teor de oxigênio dissolvido, gerando condições desfavoráveis para a vida aquática.
A eutrofização dos corpos d´água, ou o excesso de nutrientes causados pelo escoamento para os cursos d´água de elementos químicos industriais e domésticos, como fósforo e nitrato, pode ocasionar o crescimento de plantas aquáticas em excesso, comprometendo a utilização da água. O problema é comum em açudes e cursos d´água nas regiões metropolitanas. Em Fortaleza o problema é comum nas lagoas e córregos da cidade. No Rio de Janeiro sempre em período de chuvas é comum a morte de peixes na Lagoa Rodrigo de Freitas. Este é também um problema mundial e representa uma ameaça à saúde pública e aos usos múltiplos dos recursos hídricos, provocando perdas econômicas significativas.
De acordo com o Objetivo de Desenvolvimento do Milênio (ODM), estabelecidas pela Organização das Nações Unidas (ONU) na área de saneamento que incluem saúde, equidade de gênero, economia e ambiente, cada país tem que reduzir em 50% o déficit da área urbana na coleta de esgoto até 2015. Esses compromissos foram reafirmados pela Declaração de Cali durante a 1ª Conferência Latino-americana de Saneamento na Colômbia em 2007.
Na 2ª Conferência que aconteceu, entre 14 e 18 de março, em Foz do Iguaçu, o Brasil se comprometeu a cumprir as metas até o prazo final. Dentre os desafios brasileiros estão a redução do déficit de rede de esgotamento sanitário urbano de 66 milhões de pessoas e ampliação do tratamento de esgotos de 40% do que é coletado e tratado. Segundo dados da Caixa Econômica Federal, nos anos de 2007 e 2010, através do Plano de Aceleração da Economia (PAC), o Brasil investiu R$ 12 bilhões em saneamento.
O problema é qualidade dos projetos apresentados, considerados ruins e inconsistentes e por isso são rejeitados. Atualmente o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) tem R$ 8 bilhões para empréstimos a longo prazo para o setor.
Corpos d´água
Rios poluídos
Região Hidrográfica do Paraná: Alto Tietê (SP), Alto Iguaçu (PR), Piracicaba (SP), Preto (SP), Mogi-Mirim (SP), São Francisco (PR).
Região Hidrográfica do São Francisco: das Velhas, Pará, Paraopeba e Verde Grande (MG).
Região Hidrográfica Atlântico Nordeste Oriental: Jaguaribe (CE), Cuiá, Cabocó, Mussure (PB), Pirapama (PE), Coruripe (AL).
Região Hidrográfica Atlântico Sul: dos Rios dos Sinos e Gravataí (RS).
ABASTECIMENTO
No Ceará, 3 mi estão fora do sistema
O Ceará necessitaria de R$ 895 milhões para construir 25 novos mananciais para alcançar 100% da sua população atendida com abastecimento de água, sendo R$ 400 milhões só para Fortaleza e sua Região metropolitana para a construção de apenas um reservatório. Segundo o documento "Cenário atual dos recursos hídricos do Ceará" datado de 2008, resultado final do Pacto das Águas, 3 milhões de cearenses não tem acesso a água tratada.
São 149 dos 184 municípios cobertos pela Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) com água tratada. E mesmo assim, os níveis do reservatórios em diversos municípios são insuficientes para atender a demanda. Um total de 133 municípios precisam de novos reservatórios. Seriam necessários investimentos de R$ 495 milhões para construir 25 açudes que abasteceriam essas localidades.
Qualidade
De acordo com a Companhia de Gestão de Recursos Hídricos (Cogerh), dos 126 açudes que ela monitora no Estado do Ceará; 5% são oligotróficos; 24%, mesotróficos; 61%, eutróficos; e 10% como hipereutróficos (ver quadro).
Apesar de o percentual de açudes eutrofizados ser muito expressivo, a Companhia observa que cerca de 63% destes dados representam o estado da qualidade da água no período seco. Os dados são de 2008.
Este quadro, de forma geral, é marcado pela piora da qualidade da água em função da diminuição da disponibilidade hídrica, ocorrendo concentração dos materiais que degradam a qualidade das águas.
POLUIÇÃO DAS BACIAS
Situação mais crítica é no Nordeste
Plantas aquáticas comprometem os corpos d´água em todo o País, principalmente na região Nordeste
Segundo a Agência Nacional de Águas, as situações mais críticas estão localizadas na Região Hidrográfica Atlântico Nordeste Oriental, onde a disponibilidade hídrica é muito baixa. Já as regiões do São Francisco e Atlântico Leste também apresentam áreas com situações ruins. Nessas regiões a baixa pluviosidade e a elevada evapotranspiração, colaboram para o problema.
Na Região Hidrográfica do São Francisco, diversas sub-bacias estão em situação pelo menos preocupante, entre elas a dos rios das Velhas e Paraopeba, alguns afluentes do Paracatu, rios Preto, São Pedro e Ribeirão, a maioria localizados na região semiárida da bacia.
Na Região Hidrográfica do Atlântico Leste, algumas bacias também apresentam dificuldades no atendimento das demandas: como os rios Vaza-Barris, Itapicuru e Paraguaçu.
As regiões hidrográficas do Paraná e Atlântico Sudeste têm em suas margens uma alta concentração populacional, com altas demandas de uso urbano e industrial. Algumas bacias estão bastante poluídas como as dos rios Paraíba do Sul, Pomba, Muriaé, Guandu e rios que desembocam na Baía de Guanabara, e na RH do Paraná os rios encontram-se na mesma situação os rios: São Bartolomeu, Meia Ponte, Sapucaí, Turvo, Alto Iguaçu, Pardo e Mogi-Guaçu Piracicaba e Tietê. Na região Atlântico Sul, além da alta concentração urbana, há registros de conflitos devido as demandas pela irrigação.
A eutrofização ( aparecimento excessivo de algas e plantas aquáticas que causam desequilibro nos mananciais) não é um fenômeno exclusivo do Nordeste. Há registro de casos em Minas Gerais, no reservatório da Usina de Foz de Areia (bacia do Rio Iguaçu), no Paraná e no complexo lagunar de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. Em São Paulo, o rio Paraíba do Sul apresenta a proliferação capituvas, plantas macrófitas que crescem no leito do rio e se alimentam do esgoto doméstico lançado sem tratamento no rio.
As capituvas formam verdadeiras ilhas que se desgarram de suas áreas de crescimento e formam barreiras que bloqueiam o lixo flutuante. Aos poucos, essas ilhas mudam o curso da correnteza, erodindo o aterro das cabeceiras das pontes, colocando em risco a sua segurança.
De acordo com o Departamento de Águas e Energia Elétrica de São Paulo (DAEE) a limpeza das capituvas em toda extensão do rio Paraíba está orçada em R$6 milhões. Já a manutenção anual, pode chegar a até R$200 mil.
SAIBA MAIS
Oligotrófico - Corpos de água limpos, de baixa produtividade, em que não ocorrem interferências indesejáveis sobre os usos da água
Mesotrófico - Corpos de água com produtividade intermediária, com possíveis implicações sobre a qualidade da água, mas em níveis aceitáveis, na maioria dos casos.
Eutrófico - Corpos de água com alta produtividade, de baixa transparência, em geral afetados por atividades antrópicas, em que ocorrem alterações indesejáveis na qualidade da água e interferências nos usos múltiplos. A eutrofização dos mananciais possibilita o crescimento de microalgas e cianobactérias e de plantas aquáticas. Estes dois grupos de organismos, quando em crescimento excessivo, dificultam a utilização da água para fins múltiplos, em especial para o abastecimento humano e a dessedentação animal.
Hipereutrófico - Corpos de água afetados significativamente pelas elevadas concentrações de matéria orgânica e nutrientes, podendo ocorrer episódios de florações tóxicas e mortandade de peixes
Fonte - Cogerh
Vergonha
100 Milhões de brasileiros não têm acesso ao sistema de abastecimento de esgoto, mais de 50% da população do País
MARCELO RAULINO
REPÓRTER
Fonte para edição no Rema:
René Scharer - fishnet@uol.com.br
por João Suassuna — Última modificação 22/03/2010 09:34INSTITUTO SOS RIOS DO BRASIL
ÁGUA - QUEM USA, CUIDA!
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