São Paulo falha em teste para limpar águas do rio Pinheiros
da Folha Online
As primeiras tentativas do governo do Estado para tratar a água do rio Pinheiros e e levá-la limpa à represa Billings fracassaram, revela reportagem de Ricardo Gallo publicada na edição desta segunda-feira da Folha (a íntegra está disponível para assinantes do jornal e do UOL).
A Billings é uma das principais fontes de abastecimento da região metropolitana. A reportagem mostra que foram consumidos dois anos de testes e R$ 80 milhões.
O sistema testado no rio Pinheiros foi a flotação --consiste em reunir a sujeira em flocos e levá-la para a superfície do rio para ser removido. Os experimentos acabaram no final de 2009 e, apesar de avanços, os testes mostraram que o sistema não foi capaz de barrar completamente a poluição.
Sem o resultado esperado, o governo agora testará a flotação em um canal fora do rio - etapa que deve começar em abril.Folha Online
SP falha em teste para limpar o rio Pinheiros
29/03/2010Fonte: FSP, Cotidiano, p. C1, C3
SP falha em teste para limpar o rio PinheirosSistema de flotação dos resíduos, que foi utilizado durante os experimentos, obteve avanços, mas não conseguiu barrar a poluição
Ricardo Gallo
Da reportagem local
Fracassaram as primeiras tentativas do governo do Estado de São Paulo para tratar a água do rio Pinheiros e levá-la limpa à represa Billings, uma das principais fontes de abastecimento da região metropolitana. Foram consumidos dois anos de testes e R$ 80 milhões.
O sistema testado no Pinheiros foi a flotação, que consiste em reunir a sujeira em flocos e levá-la para a superfície do rio. Forma-se um lodo na parte de cima, que, então, é removido.
Embora tenha havido avanços, os testes conduzidos pelo governo José Serra (PSDB) mostraram que a flotação não foi capaz de barrar completamente a poluição.
Os experimentos acabaram no final de 2009. Por não ter obtido êxito, o governo será obrigado a testar a flotação em um canal fora do rio -etapa que deve começar em abril.
As falhas na flotação impedem, ao menos temporariamente, os planos do governo de submeter parte da água (em vez de "toda a água") do rio ao tratamento -o projeto estava previsto para começar em 2010.
Um acordo firmado na Justiça obriga o Estado a atender requisitos especificados pelo Ministério Público Estadual se quiser emplacar o projeto, estimado em R$ 350 milhões, segundo a Secretaria Estadual de Saneamento e Energia.
Entre as substâncias para as quais o tratamento é ineficaz está o nitrogênio amoniacal, indicador de presença de esgoto -impensável para estar na água levada para a Billings.
A substância também provoca a formação de algas, que podem interferir no gosto da água e levar à morte de peixes.
Sem dar solução para o problema, a flotação não pode ser implantada em todo o rio Pinheiros, disse o promotor José Eduardo Ismael Lutti, responsável pelo caso. "A qualidade da água obtida nos testes não atende os padrões legais e certamente virá a causar danos irreversíveis à Billings e, possivelmente, em consequência, à Guarapiranga, tanto sob o ponto de vista ambiental quanto no de saúde pública."
Mesmo em parâmetros onde o tratamento resultou em melhoria o resultado foi considerado insuficiente. Foi o caso do fósforo, formador de algas, cuja presença na água caiu 91%. Segundo a equipe técnica da FSP (Faculdade de Saúde Pública) da USP, porém, o que sobra de fósforo afeta a qualidade da água -a queda precisaria ser próxima a 99%. A FSP auxilia o Ministério Público no caso.
Também houve melhora na concentração de metais na água, no aumento de oxigênio dissolvido e na contaminação pela bactéria Escherichia coli, presente nas fezes humanas.
"O sistema de flotação -como concebido e testado- é insuficiente e inadequado para a missão a que se propõe: reverter esta água "melhorada" para a Billings", diz Lutti. Daí a necessidade de mais testes que comprovem a eficácia do sistema.
Como os testes são caros -os custos com produtos químicos consomem 80% do total investido-, há risco de o projeto se tornar inviável, diz o promotor.
Lodo
Há outro empecilho para implantar a flotação no Pinheiros: a necessidade de reduzir o volume de lodo que o sistema forma, disse Pedro Mancuso, especialista em reúso da água da FSP-USP e coordenador da equipe técnica que auxilia a Promotoria no assunto.
Para onde destinar o lodo é mais um problema: não há, em São Paulo, aterro sanitário capaz de receber o lodo da flotação. Há tecnologias disponíveis para resolver isso, mas que ainda não foram muito estudadas.
outro lado
Governo afirma que sistema de flotação passa por melhorias
Da reportagem local
Em nota enviada à Folha, a pasta classificou os testes do sistema de "bem-sucedidos", embora admita que não tenham atingido os "índices rigorosos exigidos pelo Ministério Público".
"Um dos principais ganhos evidenciados pelos testes foi a remoção significativa de fósforo total (91%), de grande relevância para o controle de eutrofização (proliferação de algas) no reservatório Billings. O teste também demonstrou desempenho positivo em relação a outros parâmetros, como a contaminação por Escherichia coli (redução de 90%), remoção de matéria orgânica (DBO, 53%) e aumento do oxigênio dissolvido (34%)", diz a pasta.
Os padrões, afirma a secretaria, superam o exigido em resolução nacional quanto aos níveis de lançamento em corpos d'água e estão muito próximo ao exigido pelo Ministério Público. Segundo a Promotoria, no entanto, "a melhora está longe de evitar impactos significativos na Billings ou de atingir os índices legais exigidos".
A pasta não respondeu sobre a presença de nitrogênio amoniacal na água nem o que está fazendo para remover o lodo. Por meio da assessoria de imprensa, a secretaria informou que a secretária Dilma Pena poderia falar sobre o assunto somente depois da Semana Santa. De acordo com o Ministério Público, estudos estão sendo feitos pelo governo nesse sentido.
O governo José Serra (PSDB) ressaltou ainda manter ou ter executado outras ações para despoluir o Pinheiros, entre as quais o Projeto Tietê, recuperação de mananciais (infraestrutura de saneamento, urbanização de favelas e criação de áreas verdes), despoluição de córregos e desassoreamento e barco cata-lixo, investimentos que somam R$ 2,835 bilhões.
Sem prazo:
Falha em testes atrasa estudo de impacto ambiental
FSP, 29/03/2010, Cotidiano, p. C1, C3
ÁGUA - QUEM USA, CUIDA!
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