Comemora-se todo dia 22 de março o Dia Mundial da Água, criado pela ONU (Organização das Nações Unidas) em 1992. Aproveitamos aqui essa importante iniciativa para refletirmos sobre o domínio, uso e preservação deste valioso bem natural.
Muitas vezes a ilusão da abundância tem mascarado a realidade, mas o fato é que a água de boa qualidade para consumo humano está cada vez mais escassa, o que é motivo de grande preocupação, pois a capacidade de recarga das reservas hídricas são complexas e demoradas (Tabela 1/1).
Nunca é demais lembrar que de toda a água existente na Terra menos de 3% correspondem a água doce. E quando consideramos apenas o volume disponível para consumo em rios e lagos, este índice não chega a 0,2%, visto que a maior parte da água doce concentra-se nas calotas polares e geleiras ou em subsolos profundos (Tabela 1/1).
Tabela 1/1
Distribuição de água na biosfera e período de tempo necessário para a renovação das reservas hídricas do planeta
Local Volume (em 1.000 km3) % Tempo de Renovação
Oceanos 1.370.000 97,61 3.100 anos
Calotas polares e geleiras 29.000 2,08 16.000 anos
Água subterrânea 4.000 0,29 300 anos
Água doce de lagos 125 0,009 1-100 anos
Água salgada de lagos 104 0,008 10-1.000 anos
Água misturada no solo 67 0,005 280 dias
Rios 1,2 0,00009 12-20 dias
Vapor d’água na atmosfera 1 0,0009 9 dias
Fonte: R.G. Wetzel, 1983.
Essa disponibilidade hídrica brasileira, entretanto, tão favorável em termos quantitativos e que corresponde a 11,6% da água doce disponível no mundo, não significa equilíbrio qualitativo. Os nossos grandes rios ficam distantes dos centros urbanos, ou seja, das grandes concentrações populacionais, o que torna a distribuição da água bastante irregular. A maior parte da nossa água doce – cerca de 70% - encontra-se na Região Amazônica, a menos habitada, enquanto os cerca de 30% restantes distribuem-se desigualmente pelo país, para atender a 93% da população. Ao Sudeste, por exemplo, a região brasileira com maior concentração populacional, cabem apenas 6% do total da água; e ao Nordeste, somente 3%.
Além disto, a qualidade das águas é comprometida pela poluição ambiental e pelo desmatamento - inclusive de matas ciliares, o que submete os rios à erosão e assoreamento e põe em risco, até, nascentes e outras unidades hídricas. Em seu trajeto, os cursos de água recebem diferentes tipos de poluentes, com os seguintes destaques: nos grandes centros urbanos, esgotos domésticos e industriais são neles despejados, além de servirem de depósito e escoadouro de resíduos sólidos; em algumas regiões brasileiras, principalmente na região Amazônica e Pantanal, são contaminados por mercúrio, metal pesado utilizado em garimpos clandestinos; e contaminados por agrotóxico e adubos químicos ao percorrerem plantações agrícolas, em especial monoculturas de larga escala. Em alguns casos, principalmente quanto aos dois últimos, também há risco de contaminação ocupacional.
O desperdício acompanha igualmente os diversos usos e consumos da água, desde os sistemas ineficientes de irrigação na agricultura e a não aplicação, pelas indústrias, da reutilização em seus processos produtivos, até as nossas pequenas atividades domésticas, como tomar banho, escovar os dentes e lavar o carro, pela falta de orientação e informação.
Ressalte-se, ainda, que a explosão populacional tem grande influência no desequilíbrio quantitativo e qualitativo dos recursos hídricos, pois sobrecarrega as atividades industriais e agrícolas. Mundialmente, o maior consumo de água cabe à agricultura - 67%, seguido pelo uso industrial (23%) e residencial (10%).
A água é um bem renovável, porém finito, e possui significado socioeconômico. A degradação causada pelo uso ineficiente o torna limitado e escasso, o que se verifica em muitos lugares, mesmo em regiões onde antes havia suficiência hídrica.
A seguir, alguns indicadores de consumo e sugestão de ações e hábitos que podem contribuir para o uso racional da água:
Gasto de água por tipo de consumo residencial no Brasil:
46% do consumo – chuveiro;
14% do consumo – cozinha e vaso sanitário;
12% do consumo – lavatório;
8% do consumo – máquina de lavar roupa;
6% do consumo – torneira de uso geral.
Ações que contribuem para o uso racional da água:
1. Em casa
Chuveiro:
Cozinha:
Lavar louça com a torneira aberta acarreta um gasto de 112 litros. Uma boa maneira de economizar água é encher a cuba da pia de água, limpar os resíduos de comida dos utensílios com esponja e sabão e depois enxaguar com água limpa.
Vaso sanitário:
Sozinho, o vaso sanitário pode representar 50% do gasto de água de uma residência. Verifique periodicamente se o sistema de descarga está regulado e sem vazamento.
Lavatório:
Enquanto ensaboa as mãos feche a torneira, pois cada vez que você lava as mãos com a torneira aberta o tempo todo, são gastos aproximadamente 7 litros de água.
Máquina ou tanque de lavar roupa:
Procure racionalizar o uso, juntando uma boa quantidade de roupa suja em cada lavagem. Além do que, a água do último enxágue das roupas pode ser reutilizada para ensaboar tapetes, tênis e cobertores. Também serve para, lavar carro, pisos e calçadas.
Torneira de uso geral:
Verifique se não há vazamentos. O simples gotejamento de uma torneira consome 60 litros por dia ou 2m³ por mês.
2. Na indústria
Invista no uso sustentável da água no processo produtivo, com a instalação de sistemas de reutilização, resfriamento e alimentação de caldeiras, além do reaproveitamento em rega de jardins e lavagem de pátios.
Discuta a questão da água com sua família, seus vizinhos, sua comunidade. Procure formar grupos de discussões na Escola, nas Associação de Moradores, nos espaços recreativos. Leve a discussão à Rádio Comunitária, à Câmara de Vereadores, ao Ministério Público, às Promotorias de Justiça.
É possível atingir grandes mudanças a partir dessas simples atitudes, que ainda que pequenas, têm importância fundamental na preservação dos recursos hídricos.
A escassez e o comprometimento da qualidade dos recursos hídricos exigem que adotemos com urgência hábitos de consumo adequados, eficientes, saudáveis. Talvez “uso consciente”, “uso racional” ou “uso inteligente” sejam expressões mais apropriadas, enquanto adjetivos que expressam melhor uma atitude humana vinculada à sua própria preservação.
Contudo, a água não é um elemento isolado na teia da vida. Nela, tudo está interligado. Precisamos, portanto, adotar novos hábitos de consumo e atitudes de interação e harmonia com o meio ambiente como um todo, considerando seus processos inter-relacionais, interdependes e sistêmicos.
Ao Poder Público cabe instituir políticas que possibilitem o perceber dessa interligação de elementos e favoreçam a gestão ambiental. E neste sentido, a Educação Ambiental surge como importante instrumento.
*Edgard José Laborde Gomes - Consultor Ambiental e Assessor Diretoria ABIEPSPós - Graduado em Direito Ambiental
edgard@labordeambiental.com.br
*Martim Assueros Gomes - Sociólogo - Pós-Graduado em Educação Ambiental
assuerosmartim@yahoo.com.br
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INSTITUTO SOS RIOS DO BRASIL
ÁGUA - QUEM USA, CUIDA!
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