EQUIPE BRASILEIRA DO AGUAPÉ SAI EM DEFESA DA IMPORTANTE PLANTA DESPOLUIDORA

Aguapé ganha grupo de discussão na internet

Montezuma Cruz
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BRASÍLIA – O Brasil precisa entender e aprender a utilizar o aguapé (Eichornia crassipes), esse fantástico recurso natural encontrado fartamente em lagos urbanos ou rurais. Com essa visão, a Equipe Brasileira do Aguapé entrou na internet disposta a mobilizar órgãos fiscalizadores, Congresso Nacional e organizações não-governamentais em defesa do conhecido "vegetal-água". Suas raízes longas alcançam até um metro.

É o maior despoluidor de águas do País.

– É um alerta nacional, ético, sem utopia, no momento em que a maioria dos países europeus e asiáticos não consegue soluções sustentáveis – afirma a este repórter o bacharel em química e fiscal agropecuário do Ministério da Agricultura, Missao Tanizaki. Ele acredita que brevemente o aguapé não-poluído passará a ser recomendado para alimentação humana porque sua composição supre necessidades dietéticas em carboidratos, proteínas, sais minerais, vitaminas, entre outros, superando a própria composição do grão de soja.

Desde o final de 2009 um grupo de estudiosos do aguapé se dispõe a promover o fortalecimento da produção agropecuária, reduzir a poluição e recuperar áreas degradadas. Às vésperas de se aposentar, Tanizaki acalenta esse sonho. Já visitou a Câmara dos Deputados e espera que algum parlamentar adote a idéia de apresentar um projeto de lei "para salvar o aguapé".

Sal do índio

Tanizaki destaca que o "sal do índio" é a cinza que sobra da queima do aguapé não-poluído e a sua composição – cálcio, magnésio, potássio, selênio etc é muito semelhante à do sal marinho – "se traduz em saúde, vitalidade, disposição e sabedoria".


– Procure saber o significado da diferença entre a composição do sal comum, que se compra nos supermercados, e a composição do sal marinho, ou a composição da cinza do aguapé – sugere. O sal mineral é utilizado na bovinocultura, avicultura, suinocultura e noutras atividades da produção animal.

Numa primeira etapa de sua ofensiva, a equipe pretende constituir uma base sólida para que o aguapé conquiste de forma irreversível o seu espaço na sociedade brasileira. Quando adquirir visibilidade, provavelmente vários pesquisadores certamente terão projetos elaborados.


– Até o momento há estudos feitos por pesquisadores brasileiros e estrangeiros, mas nem todos os resultados são acessíveis, queixa-se Tanizaki. Vivemos uma desorganização nessa área. Coube à coordenação geral do grupo estabelecer um banco de dados de material bibliográfico selecionado, prioridades de projetos de pesquisas, entre outros.

A equipe registrou o caso de uma propriedade no sul da Bahia, na qual cerca de trezentas cabeças de gado foram alimentadas com ração de aguapé, em 1998, durante a maior seca em 50 anos. Vacas que não produziam 5 litros de leite por dia passaram a produzir de 15 a 20 litros/dia, superando a produção máxima do regime a pasto, com capim colonião.

Substitui químicos

Missao Tanizaki - Fiscal Federal Agropecuário e Bacharel em Química

Anotou, ainda, o efeito da alga "peteca", proveniente de contaminação cruzada em redes de distribuição e coletora de água. Em ambiente de competição por nutrientes, ela mata o aguapé, fixando-se em suas raízes.

– Poderemos substituir o petróleo. Vamos contribuir com o desenvolvimento social e econômico do País – prevê Tanizaki. Ele lamenta a carência de pessoal na fiscalização ambiental e a falta de critérios uniformes para a colheita do aguapé. No interior dos estados, a fiscalização tem escritórios nas prefeituras, locais indicados para se reivindicar a liberação da colheita para fins de pesquisa.
Indústrias de insumos básicos para atividade agropecuária são as principais responsáveis pela poluição de rios, lagos e lagoas. Elas aplicam derivados químicos de petróleo.

A equipe acredita na possibilidade de as indústrias adotarem uma "linha verde de produtos", com investimentos de bancos de fomento, inclusive os regionais. O aguapé e outras biomassas abasteceriam essa linha, enquanto o funcionamento de cooperativas de pequenos produtores de aguapé possibilitariam uma unidade de produção de ração e biofertilizantes.

– Com isso, cada um desses pequenos produtores pode estabelecer a sua produção de vegetais orgânicos, criar búfalos e outros animais de baixo custo. E terão lucro, se adotarem sistemas interligados – propõe Tanizaki. Segundo o técnico, na medida em que se capitalizassem eles construiriam outras unidades de produção de novos produtos primários e/ou industrializados para atender à suinocultura, avicultura e piscicultura. Paralelamente, produziriam biogás para uso doméstico e industrial na geração de energia termoelétrica.

– Um projeto bem concebido reduz os custos de produção dos cooperados e dessas unidades industriais – ele garante.

Prefeituras precisam saber que esta planta despolui

BRASÍLIA – Algumas prefeituras do interior do Estado de São Paulo destruíram todas as armadilhas para a dengue – algumas com baterias recarregáveis e diodos com UVB –, mataram com pó químico peixes e aguapés, denunciou o engenheiro Paulo Pisani Silvestri. – Ordenaram a remoção dos aguapés, denunciei no meu site. Por sorte repovoaram com alguns aguapés, removendo para as margens aqueles que havia deixado lá para apodrecer – relata.

Na Universidade da Flórida (Miami, EUA), o aguapé se chama "Jacinto da água", lembra o engenheiro. Lá são estudadas sete espécies oriundas da América do Sul, especialmente do Brasil. Silvestri adverte quanto à devastação de aguapés no Brasil:

– Essa criatura de Deus não é um vilão para ser erradicado, mas sim, saber domá-lo e conviver com ele de forma correta. Um lago ou uma lagoa sem ele é pior do que com ele numa determinada área – adverte Silvestri. Silvestre explica que a planta pode ser bem utilizada numa lagoa abastecida por água proveniente de pequenas nascentes e de algum lençol subterrâneo que recebem o despejo de fossas sépticas, de esgoto humano pouco tratado:
– O aguapé colocado entre a lagoa e esse afluente despolui. Ele pode ser utilizado como fertilizante. O importante é limitá-lo e confiná-lo numa determinada área, para evitar seu alastramento. Os peixes se beneficiam, a água da lagoa será mais límpida e menos poluída. Os alevinos encontrarão abrigo no emaranhado que se forma nas raízes dessa planta.

Silvestri não observou problemas com os aguapés cuja superfície ocupada era inferior menor a 5% da área da lagoa. Retira-se a planta sem afetar o ecosistema local, ele disse. A planta flutua e podem-se deslocar talhões dentro das barragens até os vertedouros, por meio de raias semelhantes às utilizadas nas piscinas de natação (corda e isopor apropriado) e barcos, ou, até mesmo, canoas de arrastro. Se toras de madeira são deslocadas com facilidade dentro dos rios, imagine-se as glebas de aguapé.

Uso de barragens

Ele defende o uso de comportas nas barragens, para descarregar os aguapés em tanques de coleta:
– Dessa forma, os aguapés já saem lavados e com as raízes limpas e assim não precisamos descartar as raízes como fazem alguns pesquisadores. Minha dúvida principal é o fato de fazer ração sem descartar as raízes: isso é positivo ou negativo em termos nutricionais? – questiona o engenheiro. Segundo ele, se for positivo, a produção de ração/planta irá aumentar, além de facilitar muito o manejo dos aguapés destinados à alimentação animal.

Dono de um lago tomado por aguapés, em Holambra (SP), o biólogo Lázaro Cabral da Costa, especialista em cultura de tecidos vegetais pela Universidade Federal de Lavras, sensibilizou-se e começou um projeto de uso sustentável da planta: – Primeiro vamos fazer a análise de metais pesados, depois de micro e macro nutrientes e análise bromatológica, para destinar da melhor forma nossa crucificada planta.

O ambientalista Miguel Nicolau lembra que, no início dos anos 1980, a Companhia Energética do Estado de São Paulo encomendara uma pesquisa ao Instituto de Pesquisas Tecnológicas e à Universidade Estadual de Campinas, para uma exploração racional do aguapé.
– Os resultados foram muitos satisfatórios, salvo alguns problemas para a época, entre eles, a criação de meios mecânicos para a sua extração, Mas os resultados dessa pesquisa foram timidamente divulgados, ou melhor dizendo, sabotados. Só os 'lunáticos', como o saudoso José Lutzenberger ficaram na luta em defesa do aguapé, a favor do meio ambiente. (M.C.)

Escreva para missao .tanizaki@gmail.com

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