Rio São Francisco - Aquário da Fundação Zoo-botânica de BH será aberto no sábado
Construção e aquisição do acervo custaram mais de R$ 5 milhões
Pedro Rocha Franco - Estado de Minas
Peixes típicos da bacia hidrográfica foram selecionados para compor o plantel da instituição e, depois de adaptados, poderão ser usados em processos de repovoamento |
Da nascente em um brejo na Serra da Canastra, no interior de Minas, até sua foz no encontro com o Oceano Atlântico, já no litoral nordestino, são 2,8 mil quilômetros de tradição, história e da rica cultura nacional refletidos nas águas de um rio presente na vida de 14 milhões de pessoas.
O Rio São Francisco representa o que há de mais brasileiro e aqueles que pretendem compará-lo com o primo Amazonas argumentam que, apesar de menor, o passaporte exclusivamente verde e amarelo o garante no topo dos mais extensos entre os unicamente nacionais. E, a partir de sábado, os belo-horizontinos poderão visitar um pedacinho da imensidão do Velho Chico numa aula prática e teórica no Aquário da Bacia do Rio São Francisco, que será inaugurado no jardim zoológico.
Das carrancas protetoras aos meios de navegação usados no curso d’água, o aquário é todo ornamentado com símbolos do São Francisco. E, como nas páginas dos livros de Guimarães Rosa, o visitante é convidado a caminhar por 3 mil metros quadrados para desvendar cada cantinho do rio. Desde os tradicionais dourado e matrinxã aos exóticos pacu-caranha e tucunaré, em 22 tanques são expostas espécies variadas de peixes encontrados de Minas à Alagoas.
O aquário começou a ser construído em dezembro de 2006. Numa parceria entre a Prefeitura de Belo Horizonte e o Ministério do Meio Ambiente foram investidos R$ 5,5 milhões. Segundo o presidente da Fundação Zoo-Botânica, Evandro Xavier, a obra foi possível numa integração de esforços. “Que seja uma cruzada pela revitalização. O desafio é que as pessoas saiam da visitação com a ideia de preservar os rios”, diz.
Critérios
Com base na lista dos peixes encontrados na bacia, ao todo são 182 espécies, foram definidos dois critérios prioritários para seleção de quais seriam expostos no aquário: representatividade e necessidade de informações científicas. O primeiro critério foi considerado em situações extremas, sendo relacionados tanto os peixes muito conhecidos, seja pela culinária ou pela pesca, como aqueles pouco falados, ou até desconhecidos e sem nomes comuns, como é o caso de uma espécie da família dos rivulídeos.
Segundo o diretor do jardim zoológico, Carlyle Mendes Coelho, eles vivem em poças d’água às margens do Rio São Francisco e no período de seca todos morrem, mas os ovos resistem e novos peixes nascem quando as chuvas voltam e novamente se formam as poças. O ciclo se repete e, consequentemente, o tempo médio de vida é de seis a sete meses. “Eles nunca foram mantidos em aquário. Será preciso aprender sobre os seus hábitos para transformá-los em informações científicas”, explica.
A partir da lista, 40 técnicos da Fundação Zoo-Botânica identificaram locais onde os peixes são encontrados e entraram em contato com os pescadores da região para conseguir as espécies. Numa expedição que percorreu mais de 5 mil quilômetros, quase duas vezes a extensão da bacia, técnicos conseguiram obter aproximadamente 1,2 mil exemplares. Deste total, fazem parte também os que foram comprados e doados por instituições parceiras no projeto, como o Instituto Estadual de Florestas (IEF) e a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig).
Por causa do transporte e forma de captura e a retirada do animal de seu hábitat, acaba-se por gerar estresse e queda de resistência, o que facilita a contaminação. “Os carnívoros têm maior dificuldade de adaptação por causa da alimentação. É preciso adaptá-los à ração e, inicialmente, eles recebem peixe e filé de peixe. Já os onívoros e herbívoros aceitam com maior facilidade”, explica Carlyle. A dieta dos cascudos é baseada em algas e alimentos ricos em celulose, como casca de madeira, por isso, nos aquários é feita colonização de algas para que sirvam de comida. Por não produzirem vitamina C, é preciso incorporar o nutriente na alimentação.
Questões ligadas ao comportamento dos animais do próprio zoológico também serviram como experiência para facilitar o convívio entre espécies que compartilham o tanque. Por exemplo, o posicionamento de galhos protege os peixes menores e mais ágeis das espécies naturalmente predadoras. “Mas há casos, como o das piranhas, em que não é possível o compartilhar o tanque e é preciso mantê-las isoladas”, afirma Carlyle.
"Agora, por aqui, o senhor já viu: Rio é só o São Francisco, o Rio do Chico. O resto, pequeno, é vereda. E algum ribeirão" - trecho extraído do livro Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa
INSTITUTO SOS RIOS DO BRASIL
ÁGUA - QUEM USA, CUIDA!
Texto de Apolo Heringer Lisboa, professor da UFMG e
ResponderExcluirfundador do Projeto Manuelzão, sobre o
Aquário do São Francisco
da Fundação Zoobotânica da Prefeitura BH,
que será inaugurado nesta sexta-feira, 05/03/2010 em Belo Horizonte
"Certa vez, em palestra, disse que os zoológicos são uma instituição
perversa, que encarcera animais, e disso se orgulha. Acontece em todo o
mundo. Apresenta-se como escola para educação ambiental de crianças, e
centro de pesquisa. Centro de pesquisa em animais, realmente é, mas
excluindo o ser humano, o mais bem sucedido animal, que foi poupado de viver
enjaulado e à mostra. Se predomisasse o interesse científico por quer
discriminar o ser humano não reservando moradia para um casal pelo menos?
Por que aquário, prisão de peixes? Parece que estão substituindo os rios,
que esgotados, já quase estão sem peixes e os restantes correm o risco de se
extinguirem. Tenho outra idéia. Lutar com muita energia para salvar todos os
rios do planeta Terra, e levar as crianças para conhecerem os peixes como
realmente devem ser conhecidos: na Natureza, em liberdade. Isto vale para
todos animais, nas florestas também. Preservando rios e matas não é
necessário aprisionar animais. Nosso sistema social e sua mentalidade
dominante exterminam os *habitats* naturais e criam zoológicos e aquários.
Não deixa de ser um amor hipócrita. Imaginei um modo de observarmos os
peixes nos rios preservados: construir em vidro um mirante em forma de
submarino que ficasse dentro do rio onde as pessoas pudessem observar os
peixes vivendo em liberdade, sem que percebessem. Imaginem que aula de
qualidade. Temos tecnologias para isso e o mesmo poderia acontecer nas
florestas. As crianças viajariam, o ensino seria de outro nível de
qualidade. Que tal um projeto desse para o baixo rio das Velhas?
No caso do aquário da prefeitura de BH, construido com a melhor das
intenções no respectivo nível de consciência! ele foi construido com verbas
do mesmo governo e ministérios que aprovaram a transposição do rio São
Francisco. Transposição que significará, se for concretizada, pá de cal na
vida do São Francisco enquanto rio natural, acabando com sua vazão
ecológica e criando inúmeras barragens nos afluentes mineiros dessa bacia,
aa grandes inimigas dos rios e dos peixes. Este aquário é fruto de uma certa
má consciência, de uma tentativa de compensação e de marketing. O prefeito
de BH, embora o considere amigável e respeitável, com passagens históricas
comuns, é apoiador convicto de Ciro Gomes no projeto de transposição. Estará
inaugurando uma obra que é mais um requiém antecipado do destino da bacia do
São Francisco. E tudo será apresentado pela mídia como mais uma conquista da
sociedade, como mais um progresso!
Esta voz isolada não tem como se contrapor ao noticiário dessa engrenagem do
sistema, que apresentará à sociedade esta festa, na verdade prenúncio de
velório. Por isso não suporto o cheiro das flores em velórios. Prefiro o
perfume das flores para agradar meus encontros e regalar minha amada. Não
para esconder o mau cheiro dos defuntos. As flores são usadas também à beira
dos córregos canalizados para esconder o mau cheiro dos esgotos. Assim é a
propaganda enganosa. Sei que entre nós muitos apoiam o aquário e tenho por
eles o maior respeito, pois estão associados à recuperação do Velhas e do
São Francisco. Mas neste ítem pensamos diferentes. Sou a favor do fechamento
dos zoológicos e pela defesa das nossas matas com seus animais em todo o
mundo. O mesmo quanto aos rios e aos peixes."
MOVIMENTO MINEIRO PELO DIREITO DOS ANIMAIS:
ResponderExcluirO presente texto já foi publicado no Blog:
Vejam:
2 de março de 2010
REFLEXÃO DE APOLO LISBOA SOBRE O AQUÁRIO DO VELHO CHICO